Jornalista e escritor, autor das biografias de Carmen Miranda, Garrincha e Nelson Rodrigues, é membro da Academia Brasileira de Letras.
Nomes para impor respeito
Deve-se pensar bem antes de chamar alguém pelo apelido de infância. Ele pode achar coisa de viado
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Outro dia escrevi que há muito deixei de me referir ao atual ocupante do Planalto como “Presidente Fulano de Tal”. Passei a tratá-lo apenas pelo nome e sobrenome e sem o “Sr.”, dispensável nas estrebarias. Da mesma forma, nunca me ocorreria citá-lo apenas por “Jair”. É uma intimidade que, por questões higiênicas, dispenso. E escrevi também que não me atreveria a chamar um de seus filhos, Carlos, de “Carluxo”, como fazem alguns. O nome sugere alguém humano, simpático, inofensivo. Não me parece aplicável ao personagem.
Houve tempo em que, diante da violência que começava a tomar o país, alguns jornais soltaram normas recomendando à Redação que evitasse chamar bandidos pelos apelidos com que eram conhecidos entre seus pares. Fernandinho Beira-Mar, Marcelinho Niterói e Lulu da Rocinha, por exemplo, soavam como nomes doces, quase cômicos. Outros pareciam ter saído de um programa de humor da TV ou de um desenho animado —Escadinha, Marcola, Bem-Te-Vi, Julinho Carambola. Não correspondiam à ferocidade de seus portadores e ao terror que infligiam às comunidades.
Bandido que se preza tem de ter nome de bandido, como Cara de Cavalo, Maníaco do Parque e Elias Maluco, ou currículo suficiente para ser temido apenas pelo próprio RG, vide Lucio Flavio, Mariel Mariscot, Hosmany Ramos.
O mesmo se dá hoje entre os milicianos, a organização mais próspera do Brasil e com aberta simpatia oficial. Alguns de seus mais famosos são conhecidos como Pogba, Bimbinha e Orelha, mas, com esses nomes bobos, eles nunca passarão do segundo time. Os acima de qualquer dúvida no crime atendem por Orlando Curicica, Capitão Leo, Cabo Biro e, claro, Ronnie Lessa. Não brinque com eles.
Daí convém pensar duas vezes antes de chamar alguém influente pelo apelido de infância. Sabe-se lá se, para Carlos Bolsonaro, o nome “Carluxo” não é, como diria seu pai, coisa de viado?
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