Jornalista e escritor, autor das biografias de Carmen Miranda, Garrincha e Nelson Rodrigues, é membro da Academia Brasileira de Letras.
Os que atiram pelas costas
Estes são os news-fakers. Mas há também os followers, os influencers, os haters, os faria-limers
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Fake news, notícia falsa, mentirosa, pode não ser a palavra do ano, mas deveria ser a da década. É a arma por excelência dos covardes, daqueles que atiram pelas costas —no caso, disparos em massa— e, flagrados, negam. Nesta quinta (18), referindo-me aos que difundem os embustes de Jair Bolsonaro, chamei-os de news-fakers e só depois me ocorreu que poderia ter usado um perfeito equivalente em português, falsificadores de notícias.
Perdão, ouvintes. Deve ser de tanto ouvir expressões em voga, como faria-limers, que define os endinheirados da avenida Faria Lima, em São Paulo, e sua variante faria-loser, perdedor, desmoralizado, referindo-se ao ex-ministro da Economia em atividade Paulo Guedes. Sem falar nos out-of-towners, que são as pessoas com quem cruzamos no Rio e vê-se logo que são de fora, nos sixty-eighters, veteranos das revoluções de 1968, e até nos anitters, fãs da cantora Anitta.
Os substantivos terminados em er, para designar praticante de uma atividade ou oriundo de um lugar ou época, são coisa do inglês, mas têm trânsito internacional. Por isso, nunca pedimos licença para falar de bookmakers, globetrotters, designers, personal trainers ou serial killers. Apenas nos apropriamos. Mas, agora, tornou-se um jeito de descrever quase tudo. Há os stalkers, posers, weekenders, influencers, followers, haters, googlers, youtubers, instagramers, facebookers.
Os faria-limers cariocas seriam, dizem, os lebloners, cidadãos do Leblon. Mas, embora pisem o metro quadrado mais caro do país, a maioria dos lebloners não se diria endinheirada. Posso garantir isso porque sei de muita gente que, morando nele, jamais corresponderia a essa descrição. Eu, por exemplo. Ou o João Ubaldo Ribeiro. Quando nos cruzávamos na rua, fazíamos recíprocos tsk, tsk para nossos tênis tronchos, bermudas puídas e camisetas furadas.
Claro que há lebloners ricos. Mas são todos out-of-towners.
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