Há dois domingos (17), trocando abobrinhas sobre cinema com meu amigo Sérgio Augusto, concluí que vimos filmes americanos demais. Não era normal um garoto brasileiro saber que Victor Mature, ao ter de lutar com um leão em "Sansão e Dalila" (1949), enfureceu o diretor Cecil B. DeMille por ter medo do leão. E olhe que era um leão velho, desdentado e dopado. Já um garoto americano daquela época nunca saberia que, por falta de leão, Oscarito não teve de passar por isso em "Nem Sansão Nem Dalila" (1953), a paródia brasileira. Mas pensei melhor e me dei conta de que, para nossa sorte, eu e Sérgio também vimos muitos filmes europeus e japoneses.

Por isso sabíamos o que tinham em comum as tremendas italianas Sophia Loren, Gina Lollobrigida, Claudia Cardinale, Silvana Mangano, Silvana Pampanini, Lucia Bosè e Rosana Schiaffino —todas foram descobertas em concursos de misses. Ou o que, durante anos, Brigitte Bardot, Catherine Deneuve e Jane Fonda viram ao acordar: Roger Vadim.

De onde tirávamos a coragem para chamar filmes como "Contos da Lua Vaga" (1953), de Kenji Mizoguchi, pelo título original, "Ugetsu Monogatari"? Ou "O Homem do Riquixá" (1960), de Hiroshi Inagaki, por "Muhimatsu No Issho"? Ou "O Homem Mau Dorme Bem" (1960), de Akira Kurosawa, por "Warui Yatsu Hodo Yaku Nemuuru"? E quem nos ensinou a pronunciar (provavelmente errado) os nomes de Andrezj Wajda [ândieij váida], Zbigniew Cybulski [ijbigniv xibúlsqui] e Ewa Krzyzewska [eva criijévisca], diretor e astros do polonês "Cinzas e Diamantes" (1958), aliás "Popiól i Diamenti"?

Quem inventou contar de 10 até 1 para soltar um foguete? Fritz Lang, no alemão "A Mulher na Lua" (1928). Onde nasceu o ultrajaponês Toshiro Mifune? Na China. E Yves Montand, o perfeito francês? Na Itália. E Liv Ullman, a definitiva sueca? No Japão.

E por que eu e Sérgio nascemos tão longe de Marisa Allasio, Catherine Spaak e Stefania Sandrelli?