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Jornalista e escritor, autor das biografias de Carmen Miranda, Garrincha e Nelson Rodrigues, é membro da Academia Brasileira de Letras.

Ele sabe tudo sobre você

Apenas pelo seu rosto ou pelas digitais na tela, seu celular descobre até o que você tenta esconder

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Arthur Conan Doyle (1859-1930), se escrevesse hoje, não teria criado Sherlock Holmes. A arte da dedução, especialidade de seu detetive, tomou rumos que agora dispensam o fator humano. Tornou-se privilégio da inteligência artificial, que permite a um vulgar celular saber tudo sobre seu proprietário. Holmes só contava com sua inteligência natural.

Em "Um Estudo em Vermelho", de 1887, o romance que revelou Sherlock ao mundo, Doyle conta como, ao ser apresentado ao Dr. Watson, futuro amigo e biógrafo, Holmes perguntou-lhe como estavam as coisas no Afeganistão. Watson se espantou —como aquele sujeito podia saber que ele acabara de vir de lá?

Para Holmes, não havia mistério. Ali estava um homem com ar de médico, mas de porte militar, donde devia ser um médico do Exército. Como seu rosto estava queimado de sol, mas os punhos eram brancos, era óbvio que ele estivera recentemente nos trópicos. E seu braço esquerdo, que ele segurava com a mão direita, parecia rígido, como se tivesse sofrido um ferimento. Em que lugar dos trópicos um médico do Exercito inglês teria se ferido naquela época? No Afeganistão, onde rolava a guerra anglo-afegã. Ao ouvir isso, Watson achou tudo maravilhosamente simples.

O celular, pelo que me dizem, faz o mesmo hoje com você, sem você perceber. Exemplos. Pelo próprio modelo e marca do aparelho, ele sabe se você tem posses, é remediado ou duro. Pelas suas digitais na tela, vasculha a sua saúde —catarata, estado dentário, baço, bile, pâncreas— e calcula a sua expectativa de vida. E, pelo simples reconhecimento facial, registra o seu estado civil, opção sexual, grau de educação, clube para que torce, tudo mais e até o que você agora tenta esconder, como, digamos, ter votado em Bolsonaro.

Podemos entender as deduções de Sherlock. Mas as da inteligência artificial não. Estas nem Sherlock.

Ilustração de Sherlock Holmes de 1891 - Reprodução

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