Ronaldo Lemos

Advogado, diretor do Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio de Janeiro.

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Ronaldo Lemos

Domínio público de 2023 é espetacular

Veja os livros, filmes e músicas que passam a ter uso livre a partir deste ano

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Neste início de ano conturbado, é muito bom podermos usufruir de uma das poucas constâncias da vida ocidental: todo dia 1º de janeiro as obras que tiveram seus direitos autorais expirados são promovidas ao chamado "domínio público". Tal como o canto gregoriano que é entoado pelos monges todos os dias da semana às 18h no mosteiro de São Bento, o domínio público não falha. Todo início de ano está aí para nos reconfortar

Quando uma obra é promovida ao domínio público ela pode ser então livremente utilizada. Pode ser transformada em filmes, adaptada, traduzida, regravada e seus personagens podem aparecer em novas histórias e universos. É um convite poderoso à criatividade coletiva. E no ano de 2023 o domínio público está especialmente bom no contexto dos EUA, que é a jurisdição mais importante. Um verdadeiro presente para a humanidade neste momento de incertezas.

Andróide metálico sentado numa espécie de trono, com um halo de luz em cima da cabeça
Cena do filme "Metrópolis", dirigido pelo cineasta alemão Fritz Lang - Reprodução

No campo dos livros a safra é vigorosa. A começar pelo seminal "Ao Farol" de Virginia Woolf, publicado em maio de 1927 e considerado um marco do modernismo. Para os fãs de mistério, Sherlock Holmes também vai chegando ao domínio público. O livro "Case-book of Sherlock Holmes", compilado de estórias publicadas por Arthur Conan-Doyle entre 1921 e 1927 também é de todos nós. Hemingway também nos presenteia com seus contos reunidos no livro "Homens Sem Mulheres". Tem também "O Lobo da Estepe" de Herman Hesse, "O Tempo Reencontrado" de Proust, Faulkner e muito mais.

Se a seleção de livros é de tirar o fôlego, no cinema há pesos-pesados. Nada menos do que o filme "Metropolis" de Fritz Lang entrou no domínio público. O filme —espetacular até hoje— é o precursor de toda uma linha cinematográfica que passa por Blade Runner e os filmes de ficção científica de Dennis Villeneuve. Tem também o filme por muito tempo considerado perdido de John Ford, chamado "Upstream". Uma cópia dele foi encontrada em nitrato de celulose na Nova Zelândia em 2009.

Ascende ao domínio público também o primeiro longa-metragem falado da história, o filme "O Cantor de Jazz", de valor histórico inestimável e que encerrou o romantismo efêmero dos filmes mudos. Por curiosidade, a primeira frase falada do cinema foi: "espere um minuto, um minuto, você ainda não ouviu nada." Na época, capaz de causar assombro na audiência (e até hoje impressionante).

E tem mais. Na música muita coisa boa. A começar pelas canções "Funny Face" e "´S Wonderful" de Ira and George Gerswhin. Esta última continua como trilha sonora para os apaixonados e foi recriada em uma versão matadora de João Gilberto que abre o álbum Amoroso de 1977. Tem também "Back Water Blues" de Bessie Smith. E a influente "The Best Things in Life Are Free" de George Gard De Sylva.

O domínio público é um convite para todos: para o público redescobrir essas obras, agora facilmente acessíveis na internet. Para os arquivos e bibliotecas, que podem colaborativamente preservá-las. Inclusive evitando seu desaparecimento, como quase aconteceu com o filme de John Ford. E também para produtores e criadores. Da mesma forma como João Gilberto recriou Gershwin, outros artistas podem fazer o mesmo com esse manancial inesgotável quando a obra finalmente chega ao domínio de todos nós.

READER

Já era Achar que "fact checking" (verificação de fatos) é desnecessária

Já é Fact checking de imagens para descobrir se foram feitas por inteligência artificial

Já vem Fact checking de vídeos para descobrir se foram feitos por inteligência artificial

Erramos: o texto foi alterado

O livro “Ao Farol”, de Virginia Wolf, foi publicado em maio de 1927 e não em maio de 2027.

 

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