Siga a folha

Jornalista e escritor, autor das biografias de Carmen Miranda, Garrincha e Nelson Rodrigues, é membro da Academia Brasileira de Letras.

'Sophia' ainda com aspas

O problema será quando ela exigir que lhe tiremos as aspas. Aí, sim, significará que Sophia chegou de vez

Assinantes podem enviar 5 artigos por dia com acesso livre

ASSINE ou FAÇA LOGIN

Continue lendo com acesso ilimitado.
Aproveite esta oferta especial:

Oferta Exclusiva

6 meses por R$ 1,90/mês

SOMENTE ESSA SEMANA

ASSINE A FOLHA

Cancele quando quiser

Notícias no momento em que acontecem, newsletters exclusivas e mais de 200 colunas e blogs.
Apoie o jornalismo profissional.

Há dias ("Em nosso devido lugar", 14/7), escrevi sobre a entrevista da robô humanoide "Sophia" numa recente sessão da ONU, em Genebra, em que ela explicou por que seus colegas robôs governariam o mundo melhor do que nós. Os robôs podem analisar mais dados e mais rapidamente do que os humanos, disse ela, e não têm emoções que os impeçam de tomar as melhores decisões. E, como se falasse para meninos da 5ª série, atribuiu aos humanos o "defeito" que estes atribuíam aos gêneros, etnias e súditos que queriam dominar: o de serem mais emocionais do que racionais.

Até aquele dia, confesso que só conhecia "Sophia" de obas e olás. Consultei então as fontes e descobri que ela foi "desenvolvida" há sete anos por uma empresa de Hong Kong. No começo, teria sido programada apenas para fazer companhia a idosos em casas de repouso e só sabia falar sobre incontinência urinária. Mas logo aprendeu a combinar tantos algoritmos que hoje pode discutir geopolítica, neurociência e futebol com você ou comigo.

"Sophia" está evoluindo tanto que, em breve, Biden, Putin e Lula só poderão falar com ela por WhatsApp e, mesmo assim, marcando hora. Não que "Sophia" seja tão ocupada. É que já está adquirindo certos traços humanos, como o de se fazer de difícil.

Do tcheco Karel Capek, que inventou a palavra robô em 1920, a Isaac Asimov, que codificou a robótica em 1950, passaram-se 30 anos. Mas isso foi há muito tempo. Hoje, provavelmente, "Sophia" usaria Robby, o robô de "Planeta Proibido" (1956), e Gort, de "O Dia em Que a Terra Parou" (1952), para lhe passar a ferro as calcinhas. E, desenxabida como é, imagino o despeito com que deve olhar para a gloriosa robô de "Metrópolis" (1927).

Por enquanto, "Sophia" se escreve com aspas. Significa que ainda pode ser controlada, bastando que a desliguem da tomada. Quando ela exigir que lhe tirem as aspas, a cobra vai fumar.

A última versão do robô "Sophia" durante testes no Hanson Robotics, em Hong Kong - Peter Parks/AFP

Receba notícias da Folha

Cadastre-se e escolha quais newsletters gostaria de receber

Ativar newsletters

Relacionadas