Siga a folha

Jornalista e escritor, autor das biografias de Carmen Miranda, Garrincha e Nelson Rodrigues, é membro da Academia Brasileira de Letras.

Quem "canta jazz" e quem não?

Cantar jazz é fazer scat? E Billie Holiday, Peggy Lee e Ray Charles, que nunca o fizeram?

Assinantes podem enviar 5 artigos por dia com acesso livre

ASSINE ou FAÇA LOGIN

Continue lendo com acesso ilimitado.
Aproveite esta oferta especial:

Oferta Exclusiva

6 meses por R$ 1,90/mês

SOMENTE ESSA SEMANA

ASSINE A FOLHA

Cancele quando quiser

Notícias no momento em que acontecem, newsletters exclusivas e mais de 200 colunas e blogs.
Apoie o jornalismo profissional.

Leitores se surpreenderam ao ler aqui (28/6) que não foi com os jazzistas americanos que Leny Andrade aprendeu a fazer scat singing —a improvisação vocal, sem palavras, criando novas linhas melódicas—, mas com Dolores Duran cantando "Fim de Caso", em 1959. É fácil conferir. Basta baixar "Fim de Caso" com Dolores.

LPs jazzísticos dos anos 50 com Fred Astaire, Frank Sinatra e (com Louis Armstrong) Bing Crosby e o compacto duplo de Dolores Duran, de 1959, contendo "Fim de Caso" - Heloisa Seixas

Outros talvez estranhem a informação de que nem todo jazzista canta scat. Billie Holiday nunca fez scat. Nem Peggy Lee, Carmen McRae, June Christy, Chris Connor e Lena Horne, assim como, entre os homens, Nat King Cole, Ray Charles, Billy Eckstine, Johnny Hartman e Chet Baker. O fato de se manterem fiéis à melodia e não se entregarem ao dá-bá-dá-bá-dá não os torna menos cantores "de jazz", o que fica óbvio ao apenas escutá-los.

É verdade que, em compensação, temos Louis Armstrong, Ella Fitzgerald, Mel Tormé, Anita O’Day, Cab Calloway e Annie Ross, cujos improvisos desencavam frases vibrantes, latentes sob o tema principal, que nem os músicos com seus instrumentos. Só que esses cantores, quando queriam, também podiam cantar sem se afastar da partitura, daí a dificuldade de definir o que é um "cantor de jazz". Ele seria a antítese de um cantor "popular", mais comedido? Se for, como explicar que Duke Ellington e Count Basie vissem Bing Crosby, Frank Sinatra, Tony Bennett, Rosemary Clooney e Fred Astaire como seus pares?

No Brasil, a distinção é clara. Temos os cantores de bossa, como Carmen Miranda, Cyro Monteiro, Miltinho, Elza Soares, Wilson Simonal, e os românticos, como Nelson Gonçalves, Elizeth Cardoso, Angela Maria, Agnaldo Timóteo, Maria Bethânia.

Cantar com bossa é cantar jazz. Mas como classificar, digamos, Lucio Alves e Dick Farney? Para mim, Lucio, mestre de João Gilberto e capaz de entortar qualquer ouvido, era um cantor de bossa. E Dick, apesar de jazzista até a alma ao piano, era um cantor romântico.

Receba notícias da Folha

Cadastre-se e escolha quais newsletters gostaria de receber

Ativar newsletters

Relacionadas