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Pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia (FGV) e da Julius Baer Family Office (JBFO). É doutor em economia pela USP.

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inflação

Langoni, a verdade da direita

A distinção interessante entre esquerda e direita é sobre como as sociedades funcionam

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Morreu de Covid, há uma semana, aos 76 anos, o economista Carlos Geraldo Langoni.

Langoni é responsável por dois dos melhores trabalhos em economia aplicada sobre o Brasil de todos os tempos: sua tese de doutoramento defendida em Chicago e publicada no Brasil em 1974, "As Causas do Crescimento Econômico do Brasil", e seu trabalho mais conhecido, um clássico, "Distribuição de Renda e Crescimento Econômico do Brasil", cuja primeira edição é de 1973.

Empregando a definição do cientista político italiano Norberto Bobbio, a diferença entre esquerda e direita seria "uma maior sensibilidade [da esquerda] para diminuir as desigualdades". Podemos inferir que, para Bobbio, a esquerda está disposta a pagar o preço de menor crescimento se for efeito colateral de medidas que reduzam a desigualdade.

O economista Carlos Geraldo Langoni, que morreu no dia 13 de junho em decorrência de complicações da Covid-19 - Zeca Guimarãe - 17.mar.1996/Folhapress

Essa distinção entre esquerda e direita é normativa, refere-se a diferentes desejos de construção de uma sociedade. Sempre achei a definição de Bobbio pouco interessante. Acho que, por ela, 95% do Congresso se autodenominará de esquerda.

A distinção interessante entre esquerda e direita é de natureza positiva. São diferentes visões de como as sociedades funcionam. Para a esquerda, pobreza, desigualdade e crescimento econômico são resultado das relações sociais ou internacionais. Para a direita, são realidades intrínsecas aos indivíduos ou aos países.

No entanto, a vida é complicada, e, como nos ensinou Aristóteles, em geral, a verdade está em algum ponto no meio do caminho.

O baixo investimento em educação observado nas décadas de 1930 até 1980 explica muito de nosso subdesenvolvimento. Isso não impede que pobreza e desigualdade tenham dimensões relacionais.

Por exemplo, fazem todo sentido políticas públicas de estímulo a mecanismos de contratação --no setor público e privado-- que sejam impessoais e independentes das cadeias de amizades e conhecimento pessoal. Analogamente, justificam-se políticas públicas que estimulem a maior participação de negros em meios de comunicação, em razão da importância dessa presença na formação das identidades individuais.

Langoni mostrou-nos que a taxa de retorno do investimento em educação, 28% ao ano, era superior ao investimento em capital físico, de 16%. O retorno era ainda maior se o foco da política educacional fosse o primeiro ciclo do fundamental, o antigo primário, cuja taxa de retorno era de 32% em 1960. O crescimento aumentaria se priorizássemos a educação fundamental.

No trabalho sobre as causas da piora da distribuição de renda entre 1960 e 1970, Langoni mostrou que havia forte correlação entre o aumento da desigualdade no período e o aumento do retorno da educação. Se empregarmos como medida de desigualdade a variância da renda, 35% da piora da desigualdade observada na década de 1960 foi fruto da elevação da desigualdade educacional, e 23%, de alterações da renda associada aos diversos níveis educacionais.

Langoni empregou a melhor base de dados e a melhor estatística disponível à época. Como escreveu Delfim Netto no prefácio, "a pesquisa do professor Langoni está aqui para ser superada".

Uma crítica pertinente aos trabalhos de Langoni é que haver associação estatística entre duas variáveis não significa que uma seja causa da outra. É perfeitamente possível a elevação dos retornos à educação ter sido causada pelas políticas de contenção do salário mínimo dos trabalhadores desqualificados urbanos na década de 1960.

Mas vale lembrar que, em 1960, a inflação era alta e crescente. Em 1970, era baixa e decrescente. A política de salário mínimo contribuiu para esse resultado. Fica a pergunta: qual teria sido a desigualdade em 1970 se não tivesse havido o combate à inflação?

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