Siga a folha

Pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia (FGV) e da Julius Baer Family Office (JBFO). É doutor em economia pela USP.

Descrição de chapéu juros copom Selic

Dilemas do Banco Central

Movimentos da economia até a reunião do Copom contribuirão para justificar o ciclo de alta dos juros

Assinantes podem enviar 7 artigos por dia com acesso livre

ASSINE ou FAÇA LOGIN

Continue lendo com acesso ilimitado.
Aproveite esta oferta especial:

Oferta Exclusiva

6 meses por R$ 1,90/mês

SOMENTE ESSA SEMANA

ASSINE A FOLHA

Cancele quando quiser

Notícias no momento em que acontecem, newsletters exclusivas e mais de 200 colunas e blogs.
Apoie o jornalismo profissional.

Em razão de todo o ruído do presidente Lula com o Banco Central, há hoje um déficit de credibilidade relacionado à natureza da próxima diretoria. Dois fatores agravaram o problema.

Primeiro, a reunião do Copom (Comitê de Política Monetária) de maio, em que, por cinco votos, decidiu-se reduzir o ritmo de corte dos juros para 0,25 ponto percentual, e quatro diretores votaram pelo corte de 0,5 ponto. A divisão 5 a 4 espelhou o corte político das escolhas dos diretores. Aqueles indicados por Lula votaram pela manutenção do ritmo de redução.

Segundo, a experiência com o BC do presidente Alexandre Tombini, que esteve à frente da autoridade monetária no primeiro mandato da presidente Dilma Rousseff, quando houve claros sinais de interferência do Executivo na formulação da política monetária.

Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central - Folhapress

Assim, para sinalizar que o novo Copom terá independência em relação ao Executivo e manterá postura técnica, pode haver um ciclo de elevação dos juros agora.

De fato, o diretor de Política Monetária do BC, Gabriel Galípolo, e provável novo presidente, tem sido muito claro em reafirmar a meta. Até Lula, no último dia 16, em entrevista a uma rádio gaúcha, declarou: "Na hora em que [o novo presidente do BC] precisar reduzir a taxa de juros, ele vai ter de ter coragem de dizer que vai reduzir. Na hora em que vai aumentar, ele vai ter de ter a mesma coragem de dizer que vai aumentar".

O mercado entendeu o movimento de construção de reputação do BC e já considera um ciclo de alta da Selic de 1,5 ponto percentual, com três aumentos de 0,5 ponto.

A dificuldade é que o modelo macroeconômico do BC, segundo as informações da ata mais recente, indica que, com o dólar a R$ 5,5 e a Selic parada em 10,5%, teríamos, nos quatro trimestres terminados no primeiro trimestre de 2026, inflação de 3,2%, não muito distante da meta de 3%. Difícil justificar um ciclo de alta com esses parâmetros.

Penso que os movimentos da economia real até a próxima reunião do Copom, que será em meados de setembro, contribuirão para justificar o ciclo de elevação da taxa de juros.

No dia 3 de setembro, o IBGE divulgará o desempenho da economia brasileira no segundo trimestre. Segundo os números no boletim macroeconômico de agosto do FGV Ibre, o crescimento, em relação ao primeiro trimestre, foi de 0,9%, e, em relação ao segundo trimestre de 2023, de 2,6%. O problema é que a demanda doméstica cresceu a 3,9%.

Com a divulgação da atividade do segundo trimestre, o BC deve passar a enxergar a economia a pleno emprego. A menor taxa de desemprego desde o segundo trimestre de 2014 e o maior nível de utilização da capacidade instalada na indústria desde o primeiro trimestre de 2014 reforçam o quadro de uma economia a plena carga.

A inflação começa a dar sinais de elevação. A grande dificuldade para termos um diagnóstico do processo inflacionário é que há duas forças determinando os movimentos dos preços, e o que vemos é a resultante de ambas. Primeiro, há reversão de choques de preços que gera forte pressão para a redução da inflação. Por outro lado, a economia rodando a plena capacidade gera elevação pouco intensa, mas persistente, dos preços, principalmente dos serviços. Os dados da inflação de julho já mostraram alguma pressão inflacionária nos serviços.

Possivelmente, até a próxima reunião do Copom os novos dados de atividade e de inflação contribuirão para construir com mais nitidez o quadro de necessidade de um ciclo de elevação da taxa Selic.

Receba notícias da Folha

Cadastre-se e escolha quais newsletters gostaria de receber

Ativar newsletters

Relacionadas