Samuel Pessôa

Pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia (FGV) e da Julius Baer Family Office (JBFO). É doutor em economia pela USP.

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Descrição de chapéu inflação juros

Os 18 meses de Lula 3

Está claro que arrumar o desequilíbrio fiscal não é objetivo do presidente

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Após mais de ano e meio, é possível divisar o que deve ser o terceiro mandato de Lula.

O maior problema no país é o desequilíbrio fiscal. Trata-se de um problema do Congresso Nacional em que a liderança do presidente é importante.

Lula resolveu iniciar seu mandato com pé no acelerador do gasto. Após ano e meio, está claro que arrumar o desequilíbrio fiscal não é objetivo de Lula. Ele empurrará esse tema para seu quarto mandato, se chegar bem em 2026, ou para seu sucessor.

Fotografia em detalhe mostra um homem de pele clara, com cabelo e barba branca. Ele está sério e olha para o canto superior esquerdo da imagem. Ele está de terno.
Presidente Luiz Inacio Lula da Silva em evento com o presidente da Itália no Palácio do Planalto, em Brasília - Gabriela Biló - 15.jul.2024/Folhapress

A estratégia de Lula parece ser levar o país até 2026 com uma sucessão de ciclos de tensionamento e distensionamento com o mercado financeiro. Vale lembrar, por mercado financeiro entendem-se as pessoas que financiam o Tesouro Nacional com suas poupanças.

Assim, houve um ciclo de tensionamento das eleições até o primeiro trimestre de 2023, aproximadamente. A aprovação da emenda constitucional da transição e uma retórica muito crítica às reformas azedaram bem o ambiente. O câmbio chegou a R$ 5,3.

Do segundo trimestre de 2023 até o fim do ano passado, o clima distensionou, com o bom desempenho da agenda econômica —aprovação do arcabouço fiscal, da reforma tributária e de diversas medidas de combate ao planejamento tributário— sob a liderança do ministro Haddad. Contribuíram para a distensão sete meses seguidos de boas leituras para a inflação americana.

As três leituras ruins para a inflação americana no primeiro trimestre do ano e uma postura leniente do Executivo nacional com as metas fiscais geraram um novo ciclo de tensionamento. O dólar andou de R$ 5, no final de 2023, para R$ 5,35, em meados de maio. Nova rodada de declarações muito agressivas contra o presidente do Banco Central e uma preocupação dos financiadores do Estado brasileiro com as inconsistências do arcabouço fiscal levaram a taxa de câmbio para R$ 5,7.

Iniciou-se um movimento de distensão. O governo se comprometeu com a meta de primário zero em 2024. Contribuíram as falas muito consistentes de Gabriel Galípolo na quinta-feira (8). O real fechou a semana a R$ 5,51. Os dois próximos momentos serão o final do mês, quando o ministério da Fazenda envia ao Congresso o Projeto de Lei Orçamentária Anual (Ploa) de 2025, e setembro, quando ocorrerá a terceira avaliação bimestral da execução orçamentária de 2024.

O governo não alterará a meta de superávit zero e deverá contingenciar o suficiente para que a meta seja atendida. Esses fatos devem gerar algum alivio no mercado, e o câmbio no final do ano deve ser mais valorizado do que hoje. Ajudará o fato de que até lá ficará mais bem desenhado, do que está hoje, um ciclo mais intenso de redução dos juros nos Estados Unidos.

De quanto será a descompressão dos mercados? Penso que menos intensa do que o Palácio do Planalto avalia. O mercado tem enfatizado mais as inconsistências internas do arcabouço fiscal e menos a execução corrente da política fiscal.

Há uma preocupação com a elevação do endividamento —o mercado prevê que, entre dezembro de 2022 e dezembro de 2026, a dívida pública se eleve em 13 pontos percentuais do PIB— e o governo Lula tem demonstrado até o momento enorme dificuldade de lidar com a escalada do gasto público. O gasto primário nominal da União cresceu 15% nos últimos 12 meses.

Nesse sentido, atender a meta de superávit primário, forçando a barra na receita ou na despesa, é pior do que não satisfazer a meta, sem forçar a mão, e deixar que os mecanismos de correção do arcabouço atuem automaticamente. Não atender a meta não é igual a não cumprir o arcabouço. Este considera a possibilidade de a meta não ser atingida.

Parece que, sem reformas mais estruturais ainda neste mandato, dificilmente o câmbio voltará muito. A consolidação de um patamar mais desvalorizado para a moeda produz pressões inflacionárias —vale a leitura de artigo de quarta-feira (6) nesta Folha sobre o repasse do câmbio para os preços do atacado— que dificultarão um ciclo de queda das taxas de juros à frente.

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