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Historiadora e jornalista especializada em América Latina, foi correspondente da Folha em Londres e em Buenos Aires, onde vive.

Sentimento antirregime cresce em Cuba três anos após protestos

Semente plantada em 11 de julho de 2021 pode demorar a florescer, mas população já demonstra que nada será como antes

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Na semana que passou, completaram-se três anos dos surpreendentes e inéditos protestos que tomaram a ilha de Cuba em 11 de julho de 2021. As razões daquele levante tinham sido o crônico desabastecimento de alimentos e medicamentos, os apagões e a queda abrupta da entrada de divisas ao país por causa da pandemia.

O movimento foi liderado por jovens cansados do regime ditatorial, principalmente aqueles ligados a distintos grupos artísticos, uma vez que a gestão encabeçada por Miguel Díaz-Canel, sucessor dos Castro (Fidel e Raúl), havia imposto nova regulamentação e controle sobre as atividades artísticas. Nas ruas, ouvia-se gritos de guerra como "abaixo a ditadura" e "pátria e vida" —em contraposição ao lema revolucionário "pátria ou morte".

Manifestantes protestam contra regime de Miguel Díaz-Canel em Havana, capital de Cuba - AFP

A repressão foi brutal, e o recado era claro: "Nem tentem fazer isso novamente". Mais de 8.000 pessoas foram presas e, depois, julgadas e sentenciadas a penas absurdas.

Se na ilha o crime de tráfico de pessoas menores de idade leva no máximo a cinco anos de prisão, e o de órgãos, dez anos, os que cometeram "crimes contra a pátria" naquele dia receberam sanções de dez a 30 anos de reclusão, segundo a ONG Prisoners Defenders.

A entidade também aponta que, enquanto antes daqueles protestos havia cerca de 160 presos políticos nas cadeias cubanas, hoje eles são mais de mil. Pelo menos 30 desses são menores de idade.

Os alertas foram claros, e a repressão foi dura. Porém, o clima de revolta está longe de ter sido contido nesses últimos anos.

Outra ONG, o Observatório Cubano de Conflitos, registra um aumento anual crescente de manifestações de menor alcance. De 2023 a 2024, foi de 32%. Só no primeiro semestre de 2024, houve um recorde de 3.961 protestos em todo o território cubano, tanto na capital, Havana, como no interior.

O que une esses levantes menores, porém contínuos, é uma mesma pauta. Ainda que todos sejam críticos ao regime ditatorial, eles estão centrados em questões bem concretas: falta de energia, alimentos e medicamentos.

O regime tentou lançar um plano de renovação energética, mas grandes porções do país voltaram a usar fornos a lenha cotidianamente, por exemplo. Os racionamentos de energia obrigam a população a lavar suas roupas à noite, atrapalhando o sono das crianças.

As pessoas que mais aparecem diante de sedes administrativas para protestar têm sido mulheres com crianças pequenas ou grávidas, que dizem não ser possível alimentar seus filhos com o leite em pó de qualidade duvidosa entregue pelo regime.

Dezenas de outras vão pedir um alívio da pena de seus filhos, confinados a masmorras às vezes por terem feito apenas posts nas redes sociais a favor das manifestações.

Nestes três anos, Cuba também encolheu em termos de população. Entre 2022 e 2023, foi de 11.21 milhões a 8,6 milhões. A maioria migrou para os Estados Unidos.

Por mais que se tente regular ou interromper o acesso à internet na ilha, isso tem se tornado cada vez mais difícil. O Facebook e o WhatsApp são os mais usados. No primeiro, há acaloradas discussões entre seguidores dos ultradireitistas Donald Trump, Viktor Orbán, Jair Bolsonaro ou Javier Milei contra defensores de Hugo Chávez ou Fidel Castro, enquanto no segundo se concentra a organização dos protestos.

Um fator a considerar numa provável nova explosão social é que a inflação neste ano disparou, chegando a 35% nos primeiros meses do ano.

A semente plantada em 11 de julho de 2021 pode demorar a florescer, mas, pelo menos até o momento, os cubanos alertam para o fato de que nada será como antes.

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