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Cientista política, astrofísica e deputada federal por São Paulo. Formada em Harvard, criou o Mapa Educação e é cofundadora do Movimento Acredito.

A favela venceu?

Inspiração é importante sim, mas não é suficiente

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As medalhas de Rayssa, Rebeca e Italo nas Olimpíadas, assim como toda conquista fruto de muita superação, são comumente utilizadas para alimentar o velho mito de que “quem quer consegue”. Mas, cada vez que uma história é contada focando apenas o esforço individual, nos isentamos da nossa responsabilidade de garantir que o caminho até o pódio não seja tão absurdamente longo e sofrido para alguns, dependendo de características como cor da pele, renda e local de nascimento.

Não é motivo de celebração alguém ter que passar fome para comprar um equipamento ou caminhar por horas até o treino, como é o caso de muitos dos nossos atletas. Na minha trajetória enquanto estudante, também não foi nada glorioso ter que contar com o apoio dos meus professores para poder comer, pegar ônibus e ter roupa para participar das premiações das olimpíadas do conhecimento nas quais fui medalhista. Por trás do romantismo dessas histórias, está a constatação de que, para muitos de nós, sem uma combinação excepcional de sorte, apoio e esforço, escapar da pobreza teria sido impossível.

Com isso, não quero dizer que a inspiração que essas histórias promovem não seja importante. O problema é que isso não é suficiente. Vitórias como as que estamos vendo nos dão orgulho e fazem com que as novas gerações acreditem que aquelas conquistas também podem ser suas. Mas, sem as condições necessárias, suas chances reais seguem sendo pequenas. Afinal, o talento é distribuído igualmente na nossa sociedade, mas as oportunidades não, ainda mais em um momento em que as políticas que poderiam reverter esse cenário estão sendo cada vez mais desvalorizadas.

Levantamento do Globo Esporte apontou que 52% da delegação brasileira em Tóquio ou não recebeu auxílio ou ele foi menor que dois salários mínimos. Além disso, 42% dos atletas não têm nenhum tipo de patrocínio e 41 esportistas precisaram fazer vaquinha para chegar ao Japão.

Do mesmo modo, as olimpíadas do conhecimento, extremamente efetivas quando comparamos o seu alcance com o seu custo, vêm recebendo cada vez menos financiamento público, motivo pelo qual destino uma parte das minhas emendas parlamentares para o financiamento da Olimpíada Brasileira de Matemática de Escolas Públicas (OBMEP) e da Olimpíada Brasileira de Astronomia (OBA).

Por mais que conquistas individuais nos tragam esperança, o que precisamos mesmo é de políticas públicas que garantam que todos possam desenvolver seu potencial e, independentemente de terem ou não um talento valorizado pela sociedade, ter uma vida digna. Só quando a vitória for coletiva é que a favela vai vencer.

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