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Cientista política, astrofísica e deputada federal por São Paulo. Formada em Harvard, criou o Mapa Educação e é cofundadora do Movimento Acredito.

Menstruação: era uma vez um tabu

A aprovação de um conjunto de projetos de distribuição de absorventes mostra que há um caminho para avançarmos em discussões interditadas

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Poucas pessoas sabem que temos uma determinação da ONU sobre uma necessidade básica que ainda passa longe do debate público no Brasil: o acesso a absorventes femininos. Escrevi essa frase um ano e meio atrás, quando apresentei um projeto de combate à pobreza menstrual. Naquela época, as redes sociais foram inundadas por comentários extremamente machistas e preconceituosos.

“Como será o nome da nova estatal? CHICOBRÁS? MenstruaBr?”, questionou ironicamente o então ministro da Educação. “Bolsa perereca” e “daqui a pouco vão querer distribuir vibrador também” são exemplos do que tive que ler. Se, naquele momento, tivessem me dito que meu projeto seria aprovado dali a pouco tempo, eu certamente não teria acreditado.

Felizmente, eu estava errada. Aprovamos, na semana passada, um conjunto de projetos criando o Programa de Fornecimento de Absorventes Higiênicos, entre os quais estavam dois de minha autoria: o PL 428/2020, que propõe a distribuição de absorventes em espaços públicos, e o PL 1999/2021, que traz segurança jurídica para que gestores educacionais possam utilizar recursos da educação para a compra de absorventes para as escolas.

Além disso, diversos estados e municípios vêm criando programas robustos de combate à pobreza menstrual, como são os casos de São Paulo, Rio de Janeiro, Maranhão, Ceará, Recife e Campo Grande.
Essa virada de chave na luta contra a pobreza menstrual nos deixa duas lições importantes. Primeiro, representatividade importa. Uma das razões pelas quais lutamos por mais mulheres, negros, LGBTs, pessoas com deficiência e periféricos na política é porque, só assim, tantas dores que ainda são ignoradas serão ouvidas e endereçadas.

Segundo, quanto mais a gente fala sobre um tema difícil, de maneira honesta e aberta, menos interditada fica a conversa. No caso da pobreza menstrual, o fato de nossas meninas perderem até um mês e meio de aulas por ano por não terem acesso a absorventes deixou de ser uma estatística fria no momento em que essas meninas começaram a falar dos seus dilemas; seus pais, da vergonha que sentiam; e seus professores, das inúmeras vezes em que compraram absorventes para suas alunas com seus próprios recursos.

Nós ainda temos uma lista enorme de tabus a serem combatidos e derrubados, e, por mais difícil que seja, a nossa melhor alternativa é falar sobre eles, cada vez mais alto. Neste momento extremamente difícil que estamos vivendo, a aprovação desse conjunto de projetos renovou a minha esperança de que a nossa sociedade consegue, sim, aprender e evoluir. Às vezes, inclusive, mais cedo do que esperamos.

No Brasil, 28% das mulheres já deixaram de ir à aula por não conseguirem comprar absorvente - Maria Ribeiro - P&G

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