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Escritora Tati Bernardi transforma em coluna as perguntas enviadas por leitores da Folha

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O que torna um texto brega?

Betina quer saber o que é a escrita cafona; evite narrar a 'jornada cheia de potência' da 'mulher potente' que 'encontra a si mesma'

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Betina me escreve perguntando que tipos de palavras, frases e ideias "tornam um texto ruim (brega)".

Importante renunciar às palavras "potente" e "potência". Volte a escrever qualquer coisa com elas lá para 2035. Se você for branca, já deu sua cota de usar "ancestralidade" também.

Sabe quando no final de um filme a protagonista faz a caminhada da vitória? Quando ela, soberana e conclusiva, empina o queixo, mira o horizonte e anda cheia de atitude? Todo mundo sabe que essa é uma cena brega, batida e clichê. O mesmo ocorre com o texto que a acompanha.

Quase sempre o pensamento potente de uma protagonista cheia de potência é sobre ela ter resolvido ser muito mais ela, é sobre a melhor versão de si, porque sem saber para onde ela ia, ela foi de encontro consigo mesma. Tudo isso é sofrível. Qualquer texto que conclua que você encontrou com você mesma, salvos relatos maravilhosos de usuários de drogas lisérgicas, mostra que era melhor que você jamais tivesse saído de casa.

A não ser que você esteja tirando sarro da maneira como falava seu finado e chatérrimo tio Armando, evite narrar quão frondosa era uma árvore cuja sombra refletia na pele límpida outrora embalada pela luz fraca de um singelo abajur. Tem também os que acreditam que meter um prado acachapante, um torso aprazível ou um olhar obliterado num texto resolve uma irretorquível falta de talento.

A rua. A noite. O grito. O silêncio. Também evite escrever na cadência de como saiam, com muito esforço, os jatos de urina do seu tio Armando.

Você viveu alguma jornada? Você deixa espaço para o imprevisível? Você se surpreende com a imprevisibilidade da vida? Você chama o tempo de "esse deus tempo" ou "esse tempo deus"? Legal, só não publica isso não.

Evitaria ainda "ledo engano", "o belo", "os saberes de tantos brasis", "linha tênue" e qualquer uso da palavra vulnerabilidade para concluir que ela te fortaleceu enquanto mulher potente que se encontrou consigo mesma.


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Tem algum questionamento inusitado, uma reflexão incomum ou um caso insólito para contar? Participe da coluna O Pior da Semana enviando sua mensagem para tati.bernardi@grupofolha.com.br

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