Siga a folha

Advogado, é professor de direito internacional e direitos humanos na FGV Direito SP. Doutor pela Central European University (Budapeste), escreve sobre direitos e discriminação.

Descrição de chapéu Folhajus

Afro-otimismo

Uma semana após receber ataques, escrevo uma coluna sobre otimismo

Continue lendo com acesso ilimitado.
Aproveite esta oferta especial:

Oferta Exclusiva

6 meses por R$ 1,90/mês

SOMENTE ESSA SEMANA

ASSINE A FOLHA

Cancele quando quiser

Notícias no momento em que acontecem, newsletters exclusivas e mais de 200 colunas e blogs.
Apoie o jornalismo profissional.

Não quero que esta seja uma coluna sobre como me senti ao ser ameaçado de morte pelo texto publicado na semana passada neste espaço; oportunamente, um texto sobre a pulsão de morte nos tempos atuais.

Agora, uma semana depois, eu resolvi me permitir escrever uma coluna sobre otimismo. "Permita que eu fale, não as minhas cicatrizes/ (...) me resumir à sobrevivência é roubar um pouco de bom que vivi", como canta o poeta Emicida.

Comecemos com o seu inverso. Em livro que agora chega ao Brasil, intitulado "Afro-Pessimismo", o escritor Frank B. Wilderson III disseca a falta de humanidade a que são submetidas as pessoas negras. Wilderson combina narrativa pessoal —como um surto psicótico que sofreu— com análise filosófica rigorosa —desenvolvendo o que chama de metateoria, olhando o sujeito negro, tratado como não humano, como a categoria analítica do nosso tempo. Tal qual o marxismo fizera com a figura do proletário e o decolonialismo com a do colonizado.

A escrita de Wilderson é cortante. Talvez não seja a melhor estratégia para lidar com a dor. O que Wilderson despertou em mim, no entanto, foi um estranho sentimento de otimismo. Reivindicar a humanidade que se nega a alguns corpos e não a outros é uma forma de crer que seja possível tecer um mundo onde tal humanidade exista. É urgente construir um mundo onde possamos escrever sobre transcender nossa dor, senão a ela seremos reduzidos.

Quem sabe um dia, ao menos por um segundo, nossa existência seja como as belas pinturas de Calida Garcia Rawles de pessoas negras flutuando na água em estado de calma; ou como os quadros de No Martins com mulheres negras conversando numa praia. Quem sabe um dia possamos escrever sobre o que quisermos sem termos medo de que nos matem por isso. Ao me vacinar nesta semana contra a Covid-19, vi muitos chorando de alegria depois da injeção.

É nesse choro pela vida que reside meu otimismo.

"Between Us", obra de Calida Garcia Rawles - Reprodução

Receba notícias da Folha

Cadastre-se e escolha quais newsletters gostaria de receber

Ativar newsletters

Relacionadas