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Cronista esportivo, participou como jogador das Copas de 1966 e 1970. É formado em medicina.

Futebol é a união entre disciplina e improvisação, prosa e poesia

Parafraseando o grande Ferreira Gullar, o futebol-arte e o jogo bonito e bem jogado são essenciais porque o placar não basta

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Antes de começar o Brasileirão, sempre dizem que é o mais equilibrado do mundo. Como é frequente a igualdade técnica das equipes, as vitórias estão muito próximas das derrotas. Por isso, alguns times podem ganhar e depois perder vários jogos seguidos sem mudar o desempenho.

Quando isso acontece, surgem inúmeras explicações técnicas, táticas, físicas, emocionais, mesmo se elas têm pouca ou nenhuma importância. Comentaristas adoram achar pelos em ovo. Quem paga o pato é o treinador, com a esperança de que o substituto traga a chave da vitória.

Após as seis primeiras rodadas do Brasileirão, que é muito pouco para fazer análises definitivas, as surpresas positivas são Botafogo e Cruzeiro, dirigidos pelos técnicos portugueses Luís Castro e Pepa. Os dois times se parecem, pela intensidade, pela pressão para recuperar a bola e pela velocidade das jogadas em direção ao gol.

Os treinadores portugueses são geralmente muito científicos e pragmáticos. Além disso, dão boas explicações nas entrevistas. Contribuem para melhorar a qualidade do futebol brasileiro.

Pepa, no Cruzeiro, e Dorival Júnior, no São Paulo, contrariam o lugar-comum de que treinadores precisam de muito tempo para formar um bom conjunto. Tempo é importante, mas também é a união de jogadores de estilos diferentes que se completam e que têm características ideais para realizar as estratégias dos treinadores.

Botafogo é, até aqui, uma boa surpresa do Brasileiro - Sergio Moraes - 11.mai.23/Reuters

América e Corinthians são as surpresas negativas no Brasileirão. O América, último colocado, só tem um ponto. O time manteve o técnico, a maioria dos jogadores e o estilo de jogo do ano passado, quando fez ótima campanha. Será que o América tem feito partidas equilibradas e perdido nos detalhes, o que aumentaria as chances de passar a ter várias vitórias seguidas?

Já no Corinthians há uma nítida razão, a troca frequente de treinadores, para o time estar na zona de rebaixamento, mesmo com vários jogadores de ótima qualidade. As redes sociais, apoiadas pela diretoria e por outras opiniões, implicaram mais com os trejeitos e as roupas do técnico Sylvinho e com a cara tensa de Fernando Lázaro nas entrevistas do que com as atitudes e táticas dos dois jovens treinadores, que são muito bem preparados e poderiam evoluir com a equipe.

Roger Machado, um treinador com ótimas ideias e posicionamentos firmes, foi também preterido com a justificativa de que ainda não teve sucesso na carreira, como se fosse fácil ser campeão em campeonatos tão equilibrados. Luxemburgo é a esperança pelo seu passado vitorioso, como se tivesse a chave das vitórias. Até agora, nada mudou. Nas entrevistas, Luxemburgo, como sempre, quer ser mais esperto que a esperteza.

O São Paulo foi muito melhor que o Corinthians e só não venceu por causa dos erros do árbitro. Diferentemente do que ocorria com o time dirigido por Rogerio Ceni, que era apressado e confuso para chegar ao gol, Dorival Júnior aproximou os jogadores no meio-campo, que trocaram mais passes e envolveram o adversário.

Na média, os jogos no Brasil são intensos e com muita pressão para recuperar a bola, o que é muito bom. Mas falta mais lucidez nas decisões e acerto nos passes. O futebol é a união da disciplina tática e da improvisação, do talento coletivo e do individual, do domínio da bola e do campo, da prosa e da poesia. Parafraseando o grande poeta Ferreira Gullar, o futebol-arte e o jogo bonito e bem jogado são essenciais porque o resultado não basta.

No futebol, o resultado não basta - Rodolfo Buhrer - 7.mai.23/Reuters

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