A coluna é assinada pelo jornalista Mauro Zafalon, formado em jornalismo e ciências sociais, com MBA em derivativos na USP.
Colheita gaúcha de arroz chega ao fim, mas produtor não fecha as contas
Preços recebidos no campo não remuneram custos de produção, segundo analista
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A colheita de arroz está praticamente no final no Rio Grande do Sul. Foram colhidos 8 milhões de toneladas, 500 mil a menos do que em 2017.
Colocado o produto nos armazéns, os produtores percebem que este é um ano de comercialização lenta e de negociações muito difíceis.
A saca do produto está sendo vendida entre R$ 35 e R$ 36, um valor que não cobre o custo de produção, próximo de R$ 40. A avaliação é de Vlamir Brandalizze, analista da Brandalizze Consulting, de Curitiba.
Segundo ele, enquanto o consumidor tem o cereal a preços favoráveis, produtor e indústria passam por um período difícil. A tonelada do cereal brasileiro beneficiado é comercializada internamente a R$ 350. Na Ásia, o arroz é negociado por US$ 450, em média.
A persistência do dólar em patamar elevado poderá auxiliar o setor, reduzindo importações. As estimativas são de compras externas de 900 mil toneladas nesta safra.
A descapitalização do produtor faz, contudo, que ele não aproveite essa valorização da moeda americana, uma vez que, para cobrir despesas, é obrigado a negociar boa parte da safra aos valores atuais.
Além disso, o mercado brasileiro está pouco atraente até para os produtores vizinhos (Paraguai, Uruguai e Argentina), tradicionais exportadores para o Brasil. Eles estão buscando mercados alternativos, como os do Irã, da Venezuela e de países árabes.
Após um plantio de 1,1 milhão de hectares de arroz nesta safra, Brandalizze prevê que a área destinada ao cereal fique abaixo de 1 milhão de hectares na próxima.
O problema, segundo ele, é que está havendo uma depuração no mercado. Produtores e indústrias menos competitivos estão saindo da atividade, o que pode levar a uma concentração perigosa nos próximos anos.
Se esse cenário se confirmar, o pacote de arroz, que está entre R$ 8 a R$ 12 nos supermercados, deverá girar em torno de R$ 15 a R$ 20 nos próximos anos.
O mercado ficará nas mãos de produtores e indústrias capitalizados, que vão controlar vendas e buscar margens maiores.
O cereal já está deixando de ser atrativo para parte dos produtores, que buscam renda na soja. A saca de soja da safra 18/19 para entrega em maio do próximo ano —a oleaginosa ainda será semeada no segundo semestre— está sendo negociada a R$ 87. Esse valor corresponde a 2,4 vezes o da saca de arroz.
“Não me lembro de ter visto uma paridade tão elevada a favor da soja”, diz o analista.
Para ele, uma saída para o país é criar um mercado cativo de exportações. O produtor tem capacidade de produzir mais e as indústrias, com capacidade de processamento de 14 milhões de toneladas por ano, industrializam apenas de 11 a 12 milhões.
O aumento das exportações, no entanto, passa pelo governo. Não existe uma logística favorável às vendas externas do arroz porque os portos ficam à mercê da soja. O governo deveria permitir à inciativa privada abrir caminhos para a exportação de arroz, segundo ele.
Enquanto isso, o setor vai reduzindo área de plantio e o país poderá ficar cada vez mais dependente do mercado externo.
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