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A coluna é assinada pelo jornalista Mauro Zafalon, formado em jornalismo e ciências sociais, com MBA em derivativos na USP.

Os efeitos da montagem do genoma da ferrugem da soja demoram para chegar ao campo

Embrapa e Bayer manterão parceria para a busca de novos mecanismos de ação no Brasil com base no sequenciamento

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Começamos a conhecer o inimigo, mas a batalha ainda é longa e deverá ser contínua. Essa é a avaliação de pesquisadores reunidos nesta quarta-feira (2), em São Paulo, para decidir o que fazer após a descoberta do sequenciamento e da montagem do genoma do fungo causador da ferrugem da soja.

Na segunda-feira (30), um consórcio internacional, formado por 12 entidades públicas e privadas, havia anunciado a conclusão da montagem de três genomas do fungo Phakopsora pachyrhizi, a principal doença que afeta as lavouras de soja do Brasil.

A ciência fez a parte inicial. Agora é hora da busca de soluções que aproveitem os conhecimentos adquiridos com o sequenciamento.

E isso envolve não só novas pesquisas por parte dos cientistas mas também a ação de empresas e de produtores.

"Vai ser uma batalha sem fim. É um fungo com grande variabilidade genética e uma enorme capacidade de mutação", diz Francismar C. Marcelino, pesquisadora da Embrapa Soja.

A chegada ao campo dos efeitos dessa pesquisa ainda demora. A médio prazo, segundo Francismar, o sequenciamento pode auxiliar no melhoramento genético e no desenvolvimento de novas cultivares, uma vez que permite que se entenda melhor qual é a ação do fungo sobre a soja. Ajuda a compreender melhor a virulência e a resistência do fungo.

Para Rogério Bortolon, gerente de soluções agronômicas para a soja, da Bayer, "não foi fácil conseguir o sequenciamento, mas agora ele vai auxiliar na busca de novos mecanismos de ação contra a doença."

Na opinião da pesquisadora da Embrapa, a longo prazo, a montagem do genoma do fungo da ferrugem da soja vai facilitar o aproveitamento da transgenia e de mecanismos mais modernos, como a edição gênica.

A nova descoberta dos pesquisadores pode auxiliar também no desenvolvimento mais rápido de novas cultivares e de novos químicos para o combate ao fungo.

Dirceu Ferreira Junior, diretor do Ceat (Centro de Expertise em Agricultura Tropical) da Bayer, alerta, contudo, sobre as dificuldades de chegar a uma nova molécula.

O tempo de uma pesquisa, do início à colocação do produto para a aprovação das entidades reguladoras, pode durar dez anos. No caso do Brasil, há uma complicação ainda maior: a demora na aprovação da nova molécula, que pode superar cinco anos.

Se a pesquisa indicar uma nova cultivar resistente à doença, também será preciso percorrer um longo caminho pelos próximos dez anos.

 

O sequenciamento e a montagem do genoma do fungo vão abrir caminhos para o combate à doença, mas a ação atual do produtor e dos governos federal e estaduais continua sendo decisiva para o combate à ferrugem, segundo Maurício Meyer, pesquisador da Embrapa Soja.

Para ele, deve haver respeito ao período do vazio sanitário —período sem plantas verdes no campo. O vazio dificulta a propagação da doença, que se dá pelo ar.

O pesquisador destaca também a necessidade do manejo correto dos químicos, para evitar que os produtos percam sensibilidade e resistência.

O combate atual da doença se baseia também no uso de cultivares resistentes. A constante mudança do fungo reduz o período de vida dessas cultivares quando não houver um monitoramento constante delas pelos produtores.

A Embrapa e a Bayer fazem parte das 12 empresas que compõem o consórcio responsável pela montagem do genoma do fungo da ferrugem asiática.

As duas empresas, que já vinham pesquisando o tema e se juntaram ao consórcio internacional, vão continuar estudando as possíveis evoluções de combate à doença com base nas revelações do genoma.

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