Siga a folha

A coluna é assinada pelo jornalista Mauro Zafalon, formado em jornalismo e ciências sociais, com MBA em derivativos na USP.

País deveria estudar corredor estratégico em SP, porta de entrada e saída do agro

Agronegócio foi responsável por US$ 97 bilhões, ou 43%, das exportações em 2019

Assinantes podem enviar 5 artigos por dia com acesso livre

ASSINE ou FAÇA LOGIN

Continue lendo com acesso ilimitado.
Aproveite esta oferta especial:

Oferta Exclusiva

6 meses por R$ 1,90/mês

SOMENTE ESSA SEMANA

ASSINE A FOLHA

Cancele quando quiser

Notícias no momento em que acontecem, newsletters exclusivas e mais de 200 colunas e blogs.
Apoie o jornalismo profissional.

O avanço do coronavírus pelo país terá um efeito muito forte sobre o agronegócio. Diferentemente de países como a China, que tem produtos industriais e não perecíveis para pôr no mercado externo, o Brasil dispõe de alimentos.

O governo e o setor do agronegócio têm de se preparar para um eventual avanço descontrolado do vírus, o que exigiria medidas draconianas, como já estão sendo sugeridas por alguns especialistas.

É melhor se prevenir, montando estratégias, do que aguardar. A China inicialmente isolou completamente algumas regiões do país.A morte dos animais, que não recebiam os insumos para a ração, e a necessidade humana por alimentos forçaram o país a criar corredores estratégicos.

A Tecnoshow Comigo, uma das principais feiras agrícolas do país, está suspensa devido à pandemia - Divulgação

É nesse sentido que o Brasil deveria começar a agir para estar pronto em caso de um agravamento da doença.

O agronegócio foi responsável por US$ 97 bilhões das exportações em 2019, o que representou 43% das divisas obtidas pelo Brasil no ano.

Tomando como base os principais produtos, o setor agropecuário movimentará R$ 683 bilhões dentro das porteiras neste ano, segundo o Ministério da Agricultura. No setor de lavouras, serão R$ 448 bilhões. No de pecuária, R$ 235 bilhões.

A circulação dessas mercadorias produzidas no país é importante. O principal parceiro comercial do Brasil, a China, já tem um impacto menor do vírus e eleva a demanda por alimentos. As exportações brasileiras de soja, mesmo com o acordo China e EUA, estão aceleradas neste início de ano.

O ritmo é intenso também nas vendas de proteínas. Os chineses estão importando volumes próximos aos de dezembro, um mês histórico para indústria nacional exportadora. É o que mostram os dados da Secex desta segunda-feira (16).

Leve-se em consideração apenas o caso do principal produtor brasileiro de grãos e de carne: Mato Grosso.

Um eventual fechamento das fronteiras de São Paulo, por exemplo, o estado mais afetado pelo coronavírus no momento, deixaria produtores mato-grossenses isolados, se não houver um corredor estratégico de passagem.

A importância de Mato Grosso é grande no cenário nacional, mas a de São Paulo não é menos importante. O estado é a porta de saída e de entrada do agronegócio brasileiro e um dos principias consumidores.

Em 2019, 41% dos 20 milhões de toneladas de soja exportados por Mato Grosso saíram pelo porto de Santos. Parte, embora pequena, saiu por portos do Paraná, de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul, rotas que teriam também uma passagem por São Paulo.

Uma eventual dificuldade no escoamento de grãos por São Paulo traria uma situação dramática para os mato-grossenses. Não há armazéns suficientes para guardar a soja, principalmente em um momento em que está chegando o milho safrinha.

Serão colhidos 32 milhões de toneladas do cereal no estado. Em 2019, saíram de Mato Grosso 24 milhões de toneladas.

Maior produtor de carne do país, o estado também teria dificuldades para escoar suas proteínas, caso haja um agravamento da doença e a necessidade de medidas drásticas nas comunicações entre os estados.

Neste ano, 93% das exportações de carne bovina de Mato Grosso passaram pelo Sudeste e pelo Sul. Os problemas, porém, não se restringiriam às exportações, mas também às importações de adubo, de insumos químicos e até de trigo, produtos que, em grande parte, entram por São Paulo.

Este é o período de menor entrega de adubos pelas indústrias. O ritmo começa a acelerar a partir de junho. Um atraso na entrega, porém, mesmo em pequena quantidade, colocaria as indústrias em dificuldade. Elas não têm armazéns para estocar o produto.

A ministra da Agricultura, Teresa Cristina, diz que "não está no horizonte serem fechadas as fronteiras paulistas. Não há projeto para isso". O assunto coronavírus, porém, é assunto diário no ministério.

Segundo ela, foi montado um gabinete de acompanhamento, que se atualiza sobre as novas ocorrências diariamente. Uma das preocupações é o monitoramento do abastecimento no país. O ministério está em contato com centrais de abastecimento e supermercados continuamente.

Neste momento, não há risco de desabastecimento, afirma ela.

"Alguns efeitos o coronavírus trará ao país, como mostram as ocorrências no resto do mundo, mas não há motivo para pânico, e o agronegócio vai bem." Os preços não caíram, e as exportações do setor, principalmente as destinadas à China, voltaram ao normal, afirma a ministra.

Receba notícias da Folha

Cadastre-se e escolha quais newsletters gostaria de receber

Ativar newsletters

Relacionadas