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A coluna é assinada pelo jornalista Mauro Zafalon, formado em jornalismo e ciências sociais, com MBA em derivativos na USP.

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O fantasma dos setes de Bolsonaro

Alheio à economia, presidente permite uma escalada de preços de produtos básicos e de indicadores, como inflação e juros, na casa dos 7%.

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O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) agiu ativamente nos últimos meses para ter uma fotografia no 7 de Setembro. Conseguiu, embora ela tenha vindo com impacto menor do que o desejado por ele.

O presidente tem atrás de si, no entanto, o fantasma de vários outros setes. Será que ele despenderá algum esforço para sair bem na foto com eles?

Os setes que mais o assombram são os que afetam diretamente o bolso do consumidor. Do campo, as notícias não são boas.

A opção por produtos exportáveis, como a soja, levou parte dos produtores a reduzir o interesse por feijão, menos rentável. O resultado é que área menor e clima desfavorável empurraram o quilo dessa leguminosa, básica na alimentação das famílias de menor renda, para R$ 7.

As proteínas que saem do campo, agora com custo ainda maior de produção e, muitas vezes, destinadas ao exterior, também são fantasmas na casa dos sete.

Uma dúzia de ovos, dos mais baratos, já custa R$ 7, o mesmo preço de um galetinho de 500 gramas. Outras proteínas, como as carnes bovina e suína, requerem múltiplos de sete para levar um quilo para casa.

A busca de hortifrútis como alternativas para a alimentação não vai dar alívio ao consumidor. Batata, tomate, cebola, mamão e banana estão todos na casa dos R$ 7 por quilo nos supermercados.

O dólar, embora não tenha chegado aos R$ 7, é o responsável por muitos outros setes. A alta de preços das commodities no mercado externo e os incentivos da moeda norte-americana para as exportações levam a maioria da soja brasileira para o exterior.

O resultado é o litro do óleo de soja, indispensável na cozinha, custar R$ 7,50 para os consumidores brasileiros.

O dólar esquenta também os preços do trigo: facilita exportações e encarece importações. Dependente de compras externas em pelo menos 40% do que consome, o país vê o preço do cereal subir.

Meio quilo do pãozinho já está em R$ 7, mesmo valor do macarrão.

O café, pressionado por um recorde nas exportações e por intensas geadas, é um novo componente nos custos dos brasileiros. Nesse caso, com R$ 7 no bolso, o consumidor adquire apenas 250 gramas do produto torrado e moído.

O sete parece ser o caminho também para vários outros produtos essenciais. O arroz, entrando, neste segundo semestre, na entressafra, pode caminhar para esse patamar, assim como a farinha de trigo e o açúcar. Este, com redução de produção devido à seca nos canaviais e com demanda externa aquecida, tem preços recorde no campo, valores que vão chegar aos supermercados.

Os consumidores sofrem não apenas o peso dos alimentos mas também o de outros itens essenciais ao dia a dia.

A gasolina e o etanol já chegaram aos R$ 7 por litro em algumas cidades do Rio Grande do Sul. O diesel, a caminho desse valor, já bate R$ 6,35 em Alenquer (PA) e, em Sorriso (MT), terra da soja, do milho e dos bolsonaristas, chega a R$ 6,25.

Aperta, ainda, o bolso dos consumidores o gás de cozinha. O valor do produto envasado já chega a R$ 7 o quilo, obrigando boa parte das famílias a voltar para o fogão a lenha.

Enquanto Bolsonaro se preocupa apenas com enfrentamentos, os dados macroeconômicos vão contaminando a economia como um todo. A inflação deverá terminar o ano, conforme previsões atuais —e isso pode ficar ainda pior—, em 7,6%, o mesmo valor previsto para a Selic.

O desemprego, em 14 milhões, já soma duas vezes sete, e o país vive ainda novas pragas bíblicas, como a crise hídrica e energética.

Como Bolsonaro sempre passa ao largo das questões econômicas, as soluções estão bastante distantes. Ao que tudo indica, no entanto, ele deverá continuar buscando atritos, afinal é essa a sua forma de animar os admiradores para 2022.

​Dizem que o sete é conta de mentiroso, mas, neste caso, esses números são pura realidade.

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