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A coluna é assinada pelo jornalista Mauro Zafalon, formado em jornalismo e ciências sociais, com MBA em derivativos na USP.

Brasil vai perder autossuficiência no arroz e terá de importar, diz analista

Preços baixos e poucos remuneradores da orizicultura afastam produtores da atividade

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Em poucos anos, o Brasil deixará de ser autossuficiente em um dos principais produtos básicos do dia a dia da alimentação do consumidor brasileiro, o arroz. O cenário dos últimos anos indica para isso.

A previsão é de Vlamir Brandalizze, consultor e especialista no setor de grãos. Na avaliação dele, haverá, cada vez mais, uma substituição da cultura do arroz pela da soja, mais rentável.

Brandalizze diz que os preços baixos e poucos remuneradores da orizicultura afastam os produtores da atividade. O Brasil, segundo ele, tem um dos preços mais baixos no mundo para esse cereal.

Plantação de arroz em Sorriso, no Mato Grosso - Paulo Whitaker - 28.fev.08/Reuters

Não adianta o governo zerar o imposto de importação, uma vez que os preços daqui são inferiores aos do mercado externo. O arroz do exterior terá entraves para chegar ao mercado brasileiro, afirma.

Boa parte dessa provável escassez de arroz produzido internamente ocorrerá devido a um jogo de forças internas. A concorrência no varejo aumenta, com reflexos sobre a indústria e sobre os produtores.

O varejo está bastante concentrado, as indústrias devem passar por uma nova fase de concentração, com a redução no número das pequenas, e os produtores agrícolas menores saem da atividade, ficando apenas os de maior fôlego na produção.

O agricultor até teve um respiro no ano passado, quando a saca do cereal chegou a ser negociada próxima de R$ 100 por um período do ano, mas já recuou para R$ 70.

A diferença, agora, é que os custos de produção estão bastante elevados, sem um horizonte de redução. Para Brandalizze, a produção de arroz é uma atividade muito cara, principalmente a do irrigado. Internamente, o setor sofre influência da alta dos combustíveis, da energia, dos fertilizantes e de outros insumos químicos.

Externamente, o produto brasileiro é barato, mas não tem competitividade no mercado externo devido à elevação do custo do transporte marítimo. Além disso, o dólar abaixo de R$ 5 inibe as exportações.
Para o consultor, o país já viu essa história antes. O Brasil já foi menos dependente de trigo, mas os preços internos baixos e o aumento das importações reduziram a produção nacional. Só agora, com a recuperação dos preços, a oferta deverá aumentar.

O mesmo ocorre com os fertilizantes. Tributação e custos internos levaram o país a aumentar as compras externas, tornando essa dependência atual muito perigosa.

Os custos de produção estão elevados em todo o mundo, mas os impostos pagos pelos concorrentes dos brasileiros chegam a ser menos de um terço do que o produtor nacional paga na comercialização das mercadorias e na compra de insumos.

Esse é um item que depende de política pública. Ao contrário do que pensam os governos, a redução de impostos não vai afetar a arrecadação, uma vez que eleva o consumo em vários setores, afirma Brandalizze.

Além de pagar mais para produzir, o produtor nacional recebe menos. A tonelada de arroz vale de US$ 260 a US$ 270 no Brasil; de US$ 300 a US$ 320 no Paraguai; e US$ 300 na Tailândia, considerando produtos da mesma qualidade.

Segundo ele, o quilo de arroz custa US$ 0,60 para o consumidor nacional, um valor inferior ao US$ 0,85 a US$ 1 nos demais países.

Uma redução interna de produção já na próxima safra traria um cenário de dificuldades para o consumidor. A oferta mundial será menor, e a demanda cresce.

Um cenário traçado pelos analistas do Itaú BBA aponta custos limitadores à expansão de área na próxima safra. A relação de troca entre o cereal e a ureia, principal fertilizante utilizado pela cultura, é uma das piores nos últimos anos.

No mercado internacional, a Índia, importante nas exportações do cereal, vive período de seca e terá produção reduzida de arroz e de trigo. Estoques menores vão elevar os preços.

O consumo mundial de arroz aumenta para 772 milhões de toneladas na próxima safra, e os estoques finais caem para 278,2 milhões, conforme dados do Usda e do Itaú BBA.

A safra brasileira deste ano será reduzida para 10,7 milhões de toneladas. Com isso, há quatro safras que a produção nacional fica abaixo dos 12 milhões de toneladas.

O consumo nacional, que foi de 11 milhões em 2020/21, recua para 10,8 milhões nesta safra, segundo dados da Conab.

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