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Diretora do Instituto Gerar de Psicanálise, autora de "Criar Filhos no Século XXI" e “Manifesto antimaternalista”. É doutora em psicologia pela USP

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Mães da quebrada são o futuro

Qual é a agenda política que contempla um país e o seu amanhã?

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Genitores que não dão suporte à gestação, que não registram a criança ao nascer, que a abandonam ao se separarem da mãe passam incólumes pelo rigor dos puritanos da causa alheia. Somam-se a esses os casos nos quais os homens simplesmente matam as mulheres que deles engravidam. Nesta semana um homem matou o filho para se vingar da mãe.

Hoje, falar sobre o futuro das crianças passa por dirigir-se às mães, uma vez que são elas o esteio das próximas gerações. Embora sejam as cuidadoras e provedoras financeiras na maior parte dos lares brasileiros, suas reivindicações são tratadas como "queixas de mulherzinhas", aquelas para as quais se costuma fazer ouvidos moucos.

No mundo invertido que caracteriza a nossa sociedade de consumo, tudo o que diz respeito ao cuidado e à manutenção da vida é o que há de menos valorizado.

Acontece que a agenda política dessas mães contempla tudo o que se pode almejar para os cidadãos com ou sem filhos. Mães e avós buscam oferecer moradia, alimento, vestuário, saúde, educação, transporte, segurança, lazer, enfim, todas as condições materiais e morais para que as crianças encontrem o espaço adequado para se desenvolver.

Mulher com o nome dos filhos e do marido tatuados nos braços - Zanone Fraissat - 17.mai.23/Folhapress

É o que fazem em todas as classes sociais desde que a divisão sexual do trabalho culminou com a responsabilização total das mulheres no cuidado com a prole. As mais abastadas contam com o trabalho das mais desfavorecidas, revelando que o jogo se dá todo no campo feminino, como se o futuro só dissesse respeito a elas, sejam ricas, sejam pobres.

Se digo que a pauta do futuro é a da mãe periférica, é porque ela diz respeito àquelas mulheres que permanecem ao lado da prole diante de inúmeras adversidades, diferentemente dos homens, que mal ficam em condições ordinárias.

Elas enfrentam despejo, fome, insegurança pública e violência policial, desemprego ou subemprego, transporte e saúde pública precarizados, falta de áreas de lazer para seus filhos, ausência de creches e o sucateamento das escolas. Para sobreviver num cenário extremamente violento, elas se unem de uma forma que as mulheres de classe mais alta não costumam demandar ou mesmo conhecer, salvo raríssimas exceções, sempre fruto de necessidades específicas.

Ao se unirem para que possam manter o direito à maternidade, que em nossa sociedade depende da classe, as mulheres periféricas —ou da quebrada, se preferirem— acabam por acionar o Estado e criar uma força popular. Não raro se tornam líderes comunitárias e se politizam, alçando ao espaço público com apoio das demais.

Logo se conscientizam de que o Estado deve ser o equalizador das diferenças estruturais e acidentais para que todos os cidadãos levem uma vida digna.

É ele que permite que na hora do desespero de uma região submersa pelas águas nossos impostos sejam direcionados em seu auxílio. É ele que faz com que, para aqueles que vivem em permanente estado de calamidade, esses mesmos impostos sirvam para oferecer uma vida digna a todos.

Almejar um Estado mínimo é condenar a maior parte da população brasileira à vulnerabilidade crônica e é se eximir quando as catástrofes pontuais acontecem. Vimos isso na falta de gestão da crise pandêmica e estamos vendo seu contrário no auxílio ao RS.

Nosso futuro está nas mãos das mulheres, porque são elas que se ocupam e se preocupam com as novas gerações cotidianamente.

Acima de tudo, está nas mãos das mães periféricas, pois são elas que visam o futuro a partir da coletividade.

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