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Secretário de Redação da Folha, foi editor de Opinião. É mestre em sociologia pela USP.

Baixar o nível fortalece Bolsonaro

Ofensas, preconceitos e termos chulos também povoam críticas ao governo

Helena Bonham Carter interpreta a Rainha Vermelha no filme 'Alice Através do Espelho', de 2016 - Divulgação

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Na disputa com a Rainha Vermelha, é preciso correr para ficar no mesmo lugar. Essa imagem fecunda inventada por Lewis Carroll em “Alice através do Espelho” tem sido adaptada a outros fenômenos.

Foi reativada na mais recente obra de Daron Acemoglu e James Robinson, “The Narrow Corridor” (o corredor estreito), para ilustrar a dinâmica que assegura o equilíbrio entre a sociedade forte e o Estado capaz.

A marcha da evolução das espécies também já foi descrita por analogia à disparada inútil de Alice. Se um predador fica mais letal, acaba por estimular nas presas a seleção de atributos de defesa mais eficazes.

Na Guerra Fria, a escalada armamentista em um flanco acionava o incremento bélico no outro, e assim a relação entre ambos se mantinha.

Contrastada com a situação da política brasileira dos dias de hoje, a alegoria leva a indagar se o bolsonarismo, que conquistou um grande poder de vocalização na Presidência, estaria ele próprio, como se fosse um vetor de pressão adaptativa, moldando seus adversários, seus críticos e o próprio campo de jogo.

Falanges governistas desprezam toda mediação, institucional ou psíquica, que se coloque entre o desejo primitivo, de um lado, e a sua enunciação, do outro. Põem-se com frequência a ofender, a discriminar e a difundir palavrões e preconceitos.

Eis que surge no outro polo gente a abraçar as mesmas armas da ofensa, dos termos chulos e das generalizações preconceituosas a título de castigar o bolsonarismo. O que sobra do feminismo, e do pacto civilizatório, quando Damares Alves e Regina Duarte são tratadas a pedradas?

Como fica o clamor de que se restitua o respeito ao exercício do governo quando a obscenidade que vem de lá é devolvida do lado de cá para chocar no atacado quem o apoia?

Bolsonaro, que não ganha uma no Congresso e no Supremo e dá mostras reiteradas de incompetência gerencial, parece que vai conquistando pontos no terreno da linguagem.

O insulto de todos contra todos, afinal, é a utopia da turma no poder.

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