O sociólogo Celso Rocha de Barros vai pôr na praça um livro ambicioso que retraça toda a trajetória do Partido dos Trabalhadores em plena campanha eleitoral. Ou melhor, segundo a data de lançamento estipulada pela editora Companhia das Letras, "PT, uma História" sai bem entre o primeiro e o segundo turno.

Cuidadosa para que nenhum dos dois volumes da biografia de Lula escrita por Fernando Morais chegasse às lojas em ano eleitoral, a casa afirma que este é um projeto de registro muito diferente, "mistura de história, ensaísmo e consciência política".

Ao ouvir uma pergunta sobre o receio de que a leitura seja contaminada ou distorcida pela temperatura do debate em torno do partido, o autor responde resignado. "Se eu fosse esperar esse tempo de debate envenenado passar, o livro sairia em 2050."

"É uma aposta de que já é possível falar racionalmente sobre o PT, o que ele fez de igual ou diferente a outros partidos enquanto esteve no poder", diz Rocha de Barros, também colunista deste jornal. "A esperança é intervir na discussão política corrigindo deturpações, informações falsas, e assim trabalhar para que o clima não seja mais esse."

A ideia original era que o livro fosse um ensaio mais modesto que articulasse ideias expostas pelo colunista em artigos, mas, conforme ele foi realizando longas entrevistas —foram 67 no total, entre pessoas que pediram ou não anonimato—, percebeu que "dava para contar a história da democracia, com suas qualidades e defeitos, pela história do PT".

Assim, o sociólogo descobriu, por exemplo, que era maior do que ele esperava a importância da experiência da Constituinte na formação dos quadros petistas; e percebeu que o processo de moderação do PT, que culminou na primeira vitória de Lula há 20 anos, teve muito mais idas e vindas do que parece.

Lula, aliás, não aceitou dar entrevista para o livro, tampouco Dilma Rousseff. Rocha de Barros afirma, porém, que falou com as demais lideranças de destaque do partido desde sua fundação, assim como rivais na esquerda e na direita —como o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.

PASSADO E FUTURO Marco da literatura brasileira recente, "Um Defeito de Cor" ganha neste mês uma edição de luxo pela Record, incluindo um conto afrofuturista da autora Ana Maria Gonçalves e ilustrações da artista plástica Rosana Paulino, como a que está logo acima. O livro, aliás, inspira uma exposição que começa no Museu de Arte do Rio no próximo sábado, dia 10.

OCIDENTE E ORIENTE A revista Granta em Língua Portuguesa vai voltar a circular semestralmente no Brasil depois de dois anos de hiato, editada pela Tinta-da-China sob a batuta do português Pedro Mexia e do brasileiro Gustavo Pacheco. O tema da edição que sai em outubro é Rússia, mas foi escolhido antes do conflito com a Ucrânia. Entre os autores estão medalhões como Tatiana Tolstaia, Liudmila Ulítskaia, Elif Batuman, Masha Gessen, e Pepetela, com ensaios fotográficos de Mauro Restiffe e Mariana Viegas.