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Jornalista e apresentador, autor de “A Fantástica Volta ao Mundo”.

Com Gaby Amarantos na aparelhagem do Crôco

'Estás em Belém e não vais ao Crôco?', ela intimou; e eu fui

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Eu estava exausto. Havia passado o dia no Combu, tomando caipirinha de jambu e dançando carimbó com uma comitiva de artistas e curadores internacionais que comemoravam a nova sede oficial da Bienal das Amazônias.

Aí recebi uma mensagem de Gaby Amarantos perguntando: "Estás em Belém e não vais ao Crôco?".

Gelei. Eu havia chegado de um jantar com um casal de amigos na capital paraense que não via havia tempos e me receberam com uma conversa intensa e carinhosa. Praticamente emendei os dois eventos. Estava para chamar o aplicativo para me levar ao hotel e Gaby insistia: "Tu vais no Rock Doido comigo!".

Na madrugada, na aparelhagem do Crocodilo, em Belém (PA) - Zeca Camargo

Ainda não havia dado meia-noite e a proposta era se encontrar para beber algo e então sair para a tal da aparelhagem, que é uma festa de música brega/eletrônica. E essa do Crocodilo, me garantia a amiga paraense, era a mais nervosa de todas. A que "tremia". Fui.

Sou desse tipo de viajante: aquele que entre uma cama gostosa e uma noite de descobertas escolhe a segunda opção. Menos por um ritmo biológico, uma vez que sou muito mais produtivo de dia, especialmente de manhã, do que à noite.

Mas a mera possibilidade de estar perdendo alguma coisa em algum lugar que estou visitando sempre me impulsiona a sair. Sei lá quando eu vou voltar àquele destino. Melhor aproveitar tudo.

Com a Gaby Amarantos na aparelhagem do Crôco - Zeca Camargo

Faço isso desde os tempos de mochila, quando uma peregrinação pelos clubes londrinos dos anos 80 era uma questão de honra. Hoje, já nos "60 plus", eu deveria ter aprendido a me economizar em viagens. Não foi o caso...

Tenho orgulho de ter conhecido a Madri que inspirou Almodóvar nos seus primeiros filmes e até no recente "Dor e Glória", no qual ele olha para sua formação como cineasta.

Que prazer descobrir uma cidade que tinha "sítios de primeira hora", que funcionavam das 23h às 2h da manhã. Depois os "sítios de segunda hora", que abriam entre 3h e 6h. E tudo terminava nos "sítios de terceira hora", que abriam já com o dia claro e iam até 10h ou 11h da manhã na movida madrilenha. Alguns até o meio-dia...

Quando visitei Lisboa, ainda adolescente, não me interessei em ouvir um bom fado, um pequeno pecado de juventude. Mas quando redescobri a capital portuguesa, já nos anos 2000, aprendi que os bons fadistas só se apresentam depois das 3h da manhã, a portas fechadas. Fui procurar...

Das noites infinitas de Buenos Aires às casas de banho da madrugada de Tóquio, confesso que, mesmo contra as regras do meu metabolismo, eu tenho uma queda pela noite, nem que seja pelo puro prazer de andar por cidades quase sozinho e se achar dono delas.

As fontes iluminadas de Roma. Os minaretes brilhantes da Mesquista Azul sob o céu estrelado de Istambul. O contorno de Angkor Wet contra as nuvens iluminadas pelo luar, enquanto tomava dry martini na garupa de uma moto, providenciada pelo impecável hotel Aman de Siam Reap, no Camboja...

Ou mesmo a lua cheia quando bate na lagoa do Paraíso, em Jijoca (CE), e, se fazendo passar por um sol fraco, te faz acreditar que a manhã seguinte é um destino que ainda vai demorar muito para chegar. É... reconheço, contrariado, que também amo a vida noturna quando viajo.

Afinal, quem disse que me arrependi de ter ido ao Crôco? Hipnotizado por DJs enlouquecidos, que mal olham para a mesa de som para criar sinfonias de brega com esteroide, só conferi o relógio às 4h da manhã.

Enquanto agradecia Gaby de coração por uma noite incrível, lembrei que a programação do dia seguinte seria intensa e fui tomado de um pânico moderado. Até me lembrar de que tem sempre o avião para a gente dormir.

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