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Descrição de chapéu erick jacquin Guia Michelin

Erick Jacquin comemora 30 anos no Brasil com legião de fãs, mas sem estrela Michelin

Chef vive melhor momento da carreira à frente do Les Présidents e como integrante dos realities Masterchef Brasil e Pesadelo na Cozinha

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São Paulo

Em 2013, o francês Erick Jacquin, 59, lidava com o pior momento de sua carreira. O La Brasserie, restaurante de São Paulo em que trabalhava, faliu. As contas se avolumaram e os clientes não apareciam.

Onze anos depois, o chef vive seu auge e comemora 30 anos desde que chegou ao Brasil. Alcançou a fama e a saúde financeira com seus negócios. Querido pelos fãs, já foi objeto de memes virais e faz sucesso na TV com os realities gastronômicos da Band: Masterchef Brasil, que fez dez anos na última segunda (2), e Pesadelo na Cozinha.

Jacquin só tem uma frustração. Quando fundou o restaurante francês Les Présidents, em 2019, queria conquistar ao menos uma estrela do Guia Michelin em até três anos. O guia voltou ao Brasil em maio, e o objetivo ainda não foi alcançado. "Fiquei decepcionado", diz Jacquin, "achei injusto, mas não sou eu que decido."

Em seguida, no entanto, ele muda o tom: "Na realidade, o que são as estrelas? Os clientes. O que é melhor? Ter um restaurante cheio sem estrela, ou um restaurante com estrela e vazio?". E acrescenta: "Quem é mais famoso no Brasil, o Guia Michelin ou o Jacquin? O Jacquin. Eu sou metido. Mas mereço".

Retrato do chef Erick Jacquin, 59, em seu restaurante Les Présidents, em São Paulo; francês completa 30 anos vivendo no Brasil - Folhapress

O assunto virou piada interna no restaurante. "Não ganhamos a estrela Michelin por causa dele", brincava Jacquin, apontando para um de seus cozinheiros durante a entrevista à Folha.

Apesar da frustração, sobram motivos para comemorar. Em 2024, o francês também completará 60 anos, 45 deles dedicados à profissão. Mantém seis marcas de restaurante. Acumula hoje 5,8 milhões de seguidores nas redes sociais e cerca de 924 mil nos perfis.

No Facebook, a página Grupo Onde Fingimos ser o Jacquin tem 1 milhão de membros. Ela viralizou depois de Pesadelo na Cozinha. A diversão ali é escrever posts —imitando o chef.

"Gosto [da fama], é um carinho", conta. "Minha mulher sempre fala, ‘se não quer tirar foto ou conversar com as pessoas, não saia na rua. O dia em que isso parar, vai ser muito mais triste para você’".

As broncas de Jacquin não se restringem aos programas de TV em que trabalha. "Dou bronca, é verdade. Essa profissão exige tudo de você. Você pode ser a pessoa mais talentosa do mundo. Se você não tem vontade, seu talento não vale nada", afirma.

Ao longo de um ensaio de fotos, ele avaliava o ambiente do Les Présidents, que sediaria à noite um evento corporativo. Dava orientações e reprimendas aos funcionários, mudava mesas de posição e chegou a reclamar de bebidas que ainda não haviam sido colocadas na geladeira.

"Você não consegue forjar nenhuma faca fazendo carinho nela", conta Marja Akina, ex-subchef no Tartar&Co, restaurante fechado em 2018 e do qual Jacquin era consultor. "Ele é muito mais rígido [no dia a dia]. Na televisão, ele é uma fada." "Nunca levei bronca, mas já vi ele repreendendo um colega —uma panela caiu e espirrou molho para todo lado. E a cozinha do Les Présidents é aberta", lembra o ex-funcionário Lucas Napolitano.

"Antigamente, eu gritava e ganhava um processo. Agora eu grito e a TV me paga. Não é bom?", brinca Jacquin, que afirma estar mais calmo do que antes. "Às vezes, o silêncio é a pior crítica que posso fazer", avalia.

"O Jacquin sempre me respeitou", conta Juliana Gois, que sonhava em se especializar na culinária francesa antes de trabalhar com o apresentador. "Até pela forma de criação dele na gastronomia, ele trouxe muita dessa brutalidade para a equipe."

Jacquin já recebeu cerca de 110 processos trabalhistas. Acumulou uma dívida de R$ 12 milhões. "Está tudo pago", afirma o chef francês. "Paguei todas as dívidas, as pessoas, os bancos. Foi negociado [o valor], mas eu paguei."

A despeito da centena de ações judiciais enfrentadas, Jacquin vê com bons olhos a existência de sindicatos que defendam os interesses de funcionários e de patrões, e diz que "a esquerda tem coisas maravilhosas".

Em março, foi a um almoço com os presidentes Lula (PT) e Emmanuel Macron, na primeira visita do mandatário francês ao Brasil. Acabou cancelado no X (ex-Twitter) por suas curtidas a conteúdos ligados à direita.

"Não faço política. Não sou de esquerda, mas não sou de direita. A direita não existe mais", afirma. "Sou democrata. Cada lado tem coisas boas. Recebo aqui todo mundo. Se o Lula vier aqui, será o ‘presidente’. Se Bolsonaro vier aqui, ‘presidente’."

Jacquin considera seu trabalho uma diversão, se comparado à época em que faliu. Por isso, não esconde sua gratidão pelo Brasil. Graças à televisão, seu telefone tocou de novo.

O chef pretende festejar seus 30 anos no país organizando um jantar com os amigos. Também planeja lançar um boneco que, ao ser apertado, solta frases e bordões que são recorrentes em seus programas. Seus projetos incluem ainda um documentário que mostre como é a vida de um cozinheiro.

O reality show Pesadelo na Cozinha deve ganhar novos episódios na Band até o fim do ano.

Questionado sobre medos, confessa temer a morte. Odeia a ideia de morrer dormindo e de ser cremado, já que "passou a vida inteira na frente do forno."

Sonha abrir um restaurante em Paris e ser vovô. "Deve ser fantástico ter um netinho. Tenho 59 anos e um filho de 26. Vai ser difícil, mas eu gostaria."

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