Mortes: Mestre Toninho formou orquestra de jazz e gerações no Espírito Santo
Autodidata aprendeu o cavaquinho ainda criança e se especializou em fagote para passar em concurso
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Além do nome, Antônio Paulo Filho herdou do pai a curiosidade pela música: aos seis anos, cansado de ser plateia nos pequenos concertos organizados na casa da família em Vitória, queria assumir o espetáculo e aprender um instrumento.
Exigente, o patriarca —autodidata em instrumentos de corda— disse que primeiro o filho precisava estudar a teoria musical.
E assim fez Toninho, que aprendeu a tocar cavaquinho e aos oito já acompanhava o pai em apresentações. Não demorou, aprendeu outros instrumentos por conta própria.
Com o domínio da clarineta, conquistou uma vaga na Banda da Polícia Militar. Quando a Orquestra Sinfônica do Espírito Santo procurou alguém que tocasse fagote, Toninho viu a escassez de candidatos aptos e tratou de aprender o instrumento. Deu certo de novo: passou em primeiro lugar no concurso para a orquestra, que o abrigou por três décadas.
Ali, ganhou a alcunha de Mestre, que o acompanharia pelo resto da vida. Durante 20 anos, fez jus ao apelido também na Faculdade de Música do Espírito Santo, onde deu aulas de saxofone.
Um de seus conselhos mais corriqueiros era o da máxima da perfeição: “O segredo da música é ensaiar muito”. Não raro, interrompia os ensaios da orquestra ao perceber um deslize que só um ouvido
muito apurado detectaria.
Fã do saxofonista americano John Coltrane, era eclético: foi do tamborim em bateria de escola de samba à criação da Fames Jazz Band, da faculdade. Da Fundação Nacional das Artes, recebeu o prêmio Repertório de Ouro.
Mestre Toninho morreu no dia 23, aos 76, por falência de múltiplos órgãos. Deixa a mulher, três filhos, cinco netos e uma geração de alunos. O adeus será em forma de concerto: a Fames Jazz Band prepara
um show para seu criador.
coluna.obituario@grupofolha.com.br
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