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Descrição de chapéu Obituário Albeni Carmo de Oliveira (1950 - 2019)

Mortes: Poeta trovador, viveu por preservar a tradição gaúcha

Policial, enfrentou resistência do pai e se tornou autoridade em trova

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São Paulo

"Por favor, abram a gaita, e que comece a peleia”, comandou o repórter de um noticiário televisivo local em Porto Alegre no último dia 15.  

Albeni Carmo de Oliveira, bigode vistoso e pilcha (chapéu, lenço, bombachas e bota) se posicionou à frente do seu oponente para disputar o título de melhor trovador. 

Foi à trova gaúcha, espécie de repente tradicional sulista, que Beni, como era conhecido, dedicou toda sua vida.

Ser artista não era bem visto na pequena São Vicente do Sul, a 400 km de Porto Alegre, onde nasceu. “Meu pai, eu não podia nem assobiar a trova. Deus o livre, para ele. Naquela época, trovador, gaiteiro, era tudo vagabundo”, contou Beni a uma TV local há três anos.

Mas quando foi para o serviço militar se entregou à tradição. A princípio, para juntar um trocado em bares, conta sua filha Thaís. “Ele ia para competições em rodeios e ganhava galo, porco, como prêmio.” 

Depois se dedicou tanto que virou autoridade no assunto.

Dominava os diferentes estilos de trova, a campeira (com estrofes de seis versos), a de martelo (em que um trovador começa sua cantoria com o último verso usado pelo trovador anterior), a Gildo de Freitas (feita em cima da melodia do músico gaúcho de mesmo nome) e a pajada (espécie de poesia declamada).

Publicou cinco livros de poemas e, depois que se aposentou como brigadiano (como são chamados os policiais militares no RS), percorreu o estado e o país disseminando as tradições sulistas.

“Meu pai tem uma história de vida bem difícil, mas eu nunca o vi chorar. Quando ele estava triste, botava uma música para escutar”, conta Thais, se referindo ao primeiro casamento do pai, em que perdeu a mulher e os filhos em diferentes acidentes.

“Ele sempre dizia que não tinha um real no bolso, mas que tinha a palavra dele no fio do bigode”, brinca a filha.

Beni, na verdade, havia parado de competir em concursos de trova em 2002, quando ganhou duas categorias do festival Enart (Encontro de Artes e Tradição Gaúcha), nas modalidades de trova campeira e pajada. Depois, se tornou jurado dessas competições.

Mas resolveu disputar neste ano e, sem que esperasse, chegou às finais de um concurso promovido pela emissora local afiliada à TV Globo. 

Se preparava para a grande final da disputa, que aconteceria no Rodeio Internacional de Osório, no dia 25. Mas sofreu um infarto no dia 15, no mesmo dia em que apareceu na televisão fazendo o que mais gostava. Deixa a mulher, três filhos e quatro netos.

Albeni Carmo de Oliveira, poeta trovador que viveu por preservar a tradição gaúcha - Reprodução

coluna.obituario@grupofolha.com.br

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