Siga a folha

USP Leste consolida identidade, mas lida com baixa procura e evasão

Evolução dos programas de pós, com avaliação abaixo da média, é desafio nos 15 anos da unidade

Assinantes podem enviar 7 artigos por dia com acesso livre

ASSINE ou FAÇA LOGIN

Campus da USP Leste, inaugurado há 15 anos no extremo da capital paulista - Zanone Fraissat/Folhapress

Continue lendo com acesso ilimitado.
Aproveite esta oferta especial:

Oferta Exclusiva

6 meses por R$ 1,90/mês

SOMENTE ESSA SEMANA

ASSINE A FOLHA

Cancele quando quiser

Notícias no momento em que acontecem, newsletters exclusivas e mais de 200 colunas e blogs.
Apoie o jornalismo profissional.

São Paulo

Inaugurado há 15 anos, o campus da USP na zona leste de São Paulo ainda tem árvores baixas, que denotam sua relativa juventude, mas já possui uma identidade definida: a interdisciplinaridade. Por outro lado, enfrenta desafios que incluem a evasão e a baixa procura por alguns cursos, além da necessidade de consolidação dos programas de pós-graduação.

A unidade, no bairro de Ermelino Matarazzo, perto da divisa com Guarulhos, foi inaugurada em 2005 pelo então governador Geraldo Alckmin (PSDB) com a missão de “ir aonde o povo está” e de oferecer cursos ligados a oportunidades de trabalho.

Por essa razão, as graduações, como as de gerontologia, obstetrícia e têxtil e moda, têm perfil diferente das oferecidas no campus Butantã.

Todas elas preveem um ciclo básico que une diversas áreas do conhecimento antes das disciplinas específicas.

Os cursos ficam todos sob o guarda-chuva da EACH (Escola de Artes, Ciências e Humanidades), que tem outra inovação: é a única grande unidade da USP sem departamentos. A característica favorece interação maior entre disciplinas.

Professor do curso de gestão de políticas públicas e colunista da Folha, Pablo Ortellado cita o exemplo do seu grupo de pesquisa. “Em geral, uma pós-graduação sobre estudos culturais tem um monte de sociólogo. Nós temos biólogo, físico, matemático, gente das artes, da literatura, linguista. Isso não aconteceria no Butantã”, diz ele, que fez graduação e doutorado em filosofia na Cidade Universitária.

Aluna de ciências da natureza da USP Leste, Renata Oliveira dos Santos, 23, confirma a impressão. Ela entrou no curso já pensando em migrar para biologia. No ciclo básico, porém, apaixonou-se pela área de educação.

Junto a Bruno Trivellato, 26, do curso de sistemas de informação, e de Flávio Pereira, também aluno, montou a startup Gaia, que desenvolve um kit de robótica para crianças. Em parceria empresa Sapier, o grupo adaptou para o projeto um jogo desenvolvido para idosos com alzheimer.

Se exemplos como esse mostram que a proposta acadêmica foi implantada com sucesso, por outro lado pontos do projeto inicial ainda parecem não estar plenamente consolidados. É o caso da proposta de cursos alinhados a maior demanda social.

Segundo os dados da Fuvest 2019, a concorrência média das graduações da USP naquele ano, contando todas as unidades, foi de 13,8 candidatos por vaga. Na EACH, nenhum curso chegou a esse patamar. Os que chegaram mais perto foram marketing, com 8,39 inscritos por vaga, obstetrícia (8,45), têxtil e moda (10,62) e biotecnologia (11,26). Já os demais tiveram menos de cinco pretendentes por vaga.

Os dados da Fuvest se referem a 75% das vagas oferecidas pela USP. As demais foram disponibilizadas no Sisu (Sistema de Seleção Unificada).

A diretora Mônica Sanches Yassuda diz acreditar que o quadro se deva ao fato de algumas das carreiras estarem em processo de consolidação.

Segundo ela, está em discussão o remanejamento de parte das 1.020 vagas oferecidas pela EACH por ano. Uma possibilidade é a criação de um bacharelado em artes.

Outro desafio que a diretora aponta é o de reduzir a evasão. Atualmente, cerca de 30% dos alunos deixam curso da USP Leste ao longo da graduação.

A média não destoa daquela da USP em geral. Estudo feito pela Pró-Reitoria de Graduação com base no período de 2000 a 2018 mostrou que 22,4% abandonaram a universidade e 13,4% migraram para outra unidade da própria USP.

No caso da EACH, o cálculo de 30% de evasão inclui tanto estudantes que deixaram a USP como os que mudaram de curso na própria universidade, explica o professor Tiago Mauricio Francoy, que estuda o tema. Algumas graduações da unidade, no entanto, destoam dessa média, alcançando índices próximos a 40%, como ciências da natureza e gerontologia.

Para combater o problema, a escola implantou um sistema de tutoria, com foco principalmente no primeiro ano, e estuda outras medidas.

Outro desafio atual do campus Leste é a pós-graduação.

Atualmente, a EACH tem 11 programas, mas a maior nota atingida na avaliação da Capes foi 4 –a escala vai de 1 a 7. Na USP como um todo, 63% dos programas têm notas 5, 6 e 7.

Para a diretora, o resultado faz parte de processo natural de amadurecimento da pós-graduação, e as próximas avaliações já devem mostrar uma nova realidade.

Como legados positivos da USP Leste, Mônica destaca, além da interdisciplinaridade, a inclusão.

Um estudo de 2018 comparou o perfil dos ingressantes pela Fuvest na EACH com o do restante da USP. Mostrou que, no campus da zona leste, 50% tinham renda de até cinco salários mínimos, enquanto na universidade essa proporção ficava em 37%.

Casos como o de Kaio Gabriel Gameleira da Silva, 20, mostram o potencial e os desafios da inclusão.

Ele nem sequer sabia o que era a USP, ou que existiam universidades gratuitas, quando estudava em uma escola estadual vizinha ao campus Leste.

Veio a descobrir em 2016, quando uma mestranda que trabalhava na escola divulgou um programa de pré-iniciação científica.

Kaio fez dois anos de cursinho popular e passou direto em lazer e turismo. Depois, se transferiu para gestão de políticas públicas. “Percebi que a comunidade precisa muito mais disso do que de equipamentos de lazer.”

De seu bairro, o Jardim Keralux, Kaio só conhece mais duas alunas na EACH. Hoje, ele ajuda a gerir o cursinho popular para que esse número cresça. “Chego aqui em três minutos a pé. É realmente incrível estudar ao lado de casa”, diz.


USP LESTE

4.476 alunos na graduação
536 alunos na pós-graduação
266 professores
1.020 é o número de vagas oferecidas por ano na graduação
6.243 é o número de alunos que já se formaram no campus
816 é o número de títulos de mestrado já concedidos
5 é o de títulos de doutorado já concedidos

CURSOS DE GRADUAÇÃO OFERECIDOS 

  • Biotecnologia
  • Ciências da natureza
  • Educação física e saúde
  • Gerontologia
  • Gestão Ambiental
  • Gestão de políticas públicas
  • Lazer e Turismo
  • Marketing
  • Obstetrícia
  • Sistemas de informação
  • Têxtil e moda

Fonte: EACH em Números

LINHA DO TEMPO 
mar.2003 Governo de São Paulo cede terreno na zona leste à USP
mai.2004 Início das obras do novo campus
final de 2004 Contratação dos primeiros 60 professores
fev.2005 Inauguração do campus e início das aulas

Erramos: o texto foi alterado

Diferentemente do informado na versão original deste texto, Renata Santos, Bruno Trivellato e Flávio Pereira fundaram uma startup, e não uma empresa júnior, que faz kits educacionais de robótica.
 

Receba notícias da Folha

Cadastre-se e escolha quais newsletters gostaria de receber

Ativar newsletters

Relacionadas