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Aos 91 anos, alfaiate de Mirandópolis combate coronavírus produzindo máscaras para doação

Cláudio Menegatti adota cuidados para continuar trabalhando na máquina de costura que o acompanha há sete décadas

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São Paulo

Em outros tempos, Mirandópolis, cidade de 29 mil habitantes localizada a 531 km de São Paulo, teve sete alfaiates produzindo paletós e calças para clientes que gostavam de andar alinhados.

A alfaiataria virou coisa rara na cidade, e restou apenas Cláudio Menegatti, 91, um profissional que faz questão de manter sua velha máquina de costura funcionando e que sempre saiu de casa de manhã para trabalhar.

Os clientes são deputados, juízes, promotores, vereadores e outros, que chama de amigos e o procuram para confeccionar calças —sua especialidade— e ajustar ternos comprados prontos.

A rotina de trabalho, no entanto, foi ameaçada pela pandemia do novo coronavírus. Como acontece em todo o país, o comércio baixou as portas em Mirandópolis, e o alfaiate precisou suspender temporariamente as atividades.

A ociosidade o deixou triste, sem ter o que fazer em casa. Até surgir a ideia que agora movimenta o dia a dia dele: produzir máscaras de proteção facial para doação.

A sugestão foi de uma sobrinha, que entregou moldes e incentivou a atividade. O senhor Cláudio, como é conhecido na cidade, logo se adaptou à novidade e iniciou uma linha de produção de dez máscaras por dia, todas doadas para profissionais da área da saúde, comerciantes autorizados a trabalhar na quarentena e quem mais o procurar.

O Ministério da Saúde recomenda o uso de máscaras de pano. A OMS (Organização Mundial da Saúde) diz que máscaras hospitalares só devem ser usadas por pessoas com Covid-19, a doença causada pelo novo coronavírus, pelos que manifestem sintomas sugestivos ou por quem está convivendo com essas pessoas, como familiares e profissionais da saúde.

O alfaiate Cláudio Menegatti, 91, produz máscaras de proteção para doar em Mirandópolis (SP) - Divulgação

"Eu tenho 54 anos e nunca vi meu pai tirar férias", conta Paulo Menegatti, filho do alfaiate, ao explicar a dificuldade que ele teve de se afastar do trabalho.

É ele quem leva o pai diariamente para a alfaiataria, em um carro higienizado. No local, Menegatti usa máscara de proteção, higieniza as mãos e só começa a trabalhar após limpar a máquina de costura que o acompanha há 70 anos, desde que começou na profissão e ganhou o equipamento de presente da mãe.

Apenas uma fresta da porta permanece aberta, e a entrega das máscaras é feita com os cuidados necessários para evitar a contaminação por coronavírus. Elas são lavadas pela mulher de Menegatti, Idalina, 83, e embaladas, antes de serem doadas.

Relatórios da OMS e do Ministério da Saúde colocam os mais velhos entre os mais suscetíveis à Covid-19 e entre os mais afetados pela letalidade quando atingidos pelo coronavírus.

Em Mirandópolis, 11,44% da população tem 65 anos ou mais. Aqueles com mais de 80 anos, faixa etária de Cláudio Menegatti, são 2,37% dos habitantes.

Na juventude, o alfaiate trabalhou na área rural, em uma serraria, e carregou lenha para abastecer maria-fumaças, as antigas locomotivas a vapor, até aprender o ofício a que se dedica há sete décadas.

"Eu não tinha como aprender uma profissão durante o dia, então aprendi à noite, com um amigo japonês. Fiquei seis anos com ele e depois resolvi abrir minha alfaiataria", conta.

Costurando, sempre na máquina que ganhou da mãe, conseguiu comprar casa própria e um sítio. Tem orgulho de dizer que teve quatro filhos e todos puderam estudar. "E tenho muita saúde", completa.

A história do alfaiate que ajuda a enfrentar o coronavírus faz sucesso nas redes sociais desde que outro filho dele, Fábio, compartilhou uma foto do pai na máquina de costura e contou que é assim que ele pretende atravessar a quarentena. As milhares de curtidas e compartilhamentos emocionam Menegatti.

"O mundo precisa de mais gente assim", disse uma admiradora do trabalho do alfaiate. "É uma imagem que dispensa legenda", comentou um internauta sobre a foto de Menegatti costurando máscaras.

Tentando se adaptar aos novos tempos, o agora doador de máscaras compara a fase atual ao período do pós-Guerra, quando o mundo precisou ser reconstruído.

Tendo já visto muita coisa acontecer, ele não se abala facilmente. Quer continuar costurando as máscaras para doar e, assim que a fase de isolamento social passar, planeja um churrasco em casa com os filhos.

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