Siga a folha

Descrição de chapéu Obituário Mirthes Bernardes (1934 - 2020)

Mortes: Foi a criadora das calçadas com figura do estado de SP

Mirthes Bernardes criou padrões em ziguezague para concurso promovido pela prefeitura nos anos 1960

Continue lendo com acesso ilimitado.
Aproveite esta oferta especial:

Oferta Exclusiva

6 meses por R$ 1,90/mês

SOMENTE ESSA SEMANA

ASSINE A FOLHA

Cancele quando quiser

Notícias no momento em que acontecem, newsletters exclusivas e mais de 200 colunas e blogs.
Apoie o jornalismo profissional.

São Paulo

Quem andou pelas calçadas da avenida Paulista entre os anos 1970 e 2008 viu o ziguezague em preto e branco formado por mosaicos de pedra portuguesa. A via símbolo de São Paulo tinha no piso um padrão geométrico que fazia referência ao desenho do estado de São Paulo, dois trapézios unidos pelas pontas de suas bases.

Mirthes Bernardes, responsável por projetar os desenhos padronizados das calçadas de São Paulo com a bandeira do Estado em preto e branco - Eduardo Anizelli/Folhapress

Autora do projeto, Mirthes Bernardes morreu na última sexta (18), aos 86 anos. A artista plástica afirmava nunca ter ganhado nenhum centavo pela criação dessa conhecida marca da cidade, a mesma que antes de ganhar a Paulista avançou por calçamentos na praça do Patriarca, entre outras localizações do centro histórico, e nas avenidas Brigadeiro Faria Lima e Consolação. Ela chegou a pleitear direitos autorais na Justiça, mas não saiu vitoriosa.

Mirtes dos Santos Pinto, que na juventude acrescentou a letra “h” a sua identidade e também o sobrenome materno, Bernardes, formou-se no curso de Serviço Social da PUC de São Paulo e, nos anos 1960, empregou-se na Secretaria de Obras, vinculada à Prefeitura de São Paulo. Durante sua gestão, entre 1965 e 1969, o prefeito Brigadeiro Faria Lima lançou um concurso para estabelecer padrões para o calçamento da capital paulista. Foi aí que Mirthes encontrou a forma de deixar sua marca.

Em entrevista à Folha, registrada em vídeo em 2015, ela contou que foi quase por acidente que se tornou autora deste projeto para a cidade —referido inclusive em estampas de roupas e reproduzido nas faces de sandálias Havaianas. Embora não houvesse restrição para que funcionários públicos participassem do concurso, a artista não pretendia se inscrever. “Comecei a rabiscar e saiu sem querer. Meu chefe passou pela minha mesa e disse ‘Que legal, de quem é?’", ela contava.

Mirthes acabou entre quatro finalistas da competição, cujos desenhos foram colocados à mostra na avenida Consolação para apreciação pública. O dela foi escolhido por um júri popular. Ainda nos anos 1960, iniciou-se a aplicação dos padrões nas calçadas.

Segundo Fernando Zelman, curador de arte que conheceu Mirthes há 20 anos e manteve com ela uma amizade, a artista nascida em Barretos era antiga moradora da cidade de São Paulo, mas havia se mudado para Sorocaba no início da pandemia de Covid-19. Ela estava reclusa e a causa de sua morte não foi divulgada por familiares.

Mirthes manteve seu ateliê na cidade de São Paulo, produzindo especialmente paisagens em terracota e esmalte. Ela seria convidada a participar da Bienal Latino-Americana de Cerâmica, programada para ser realizada em setembro do ano que vem. Flores e árvores eram temas de sua preferência.

Receba notícias da Folha

Cadastre-se e escolha quais newsletters gostaria de receber

Ativar newsletters

Relacionadas