História não é feita só por homens e brancos, diz primeira vereadora negra de Curitiba
Carol Dartora (PT) diz que precisará de apoio para enfrentar legislatura conservadora
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“Vencemos, chegamos, ocupamos. Pela primeira vez, uma mulher negra ocupa este espaço e vamos continuar resistindo”. A voz da vereadora Carol Dartora (PT), 37, ecoou na tarde desta sexta-feira (1º) como manifesto antirracista e em defesa das mulheres, na posse virtual da Câmara Municipal de Curitiba, antes de ela ler o juramento em nome de todos os parlamentares eleitos.
Professora, ela disse à Folha que vai fazer de seu mandato um “lugar de resistência, denúncia e proposição”.
Com votação expressiva, a vereadora, filha de militantes do movimento negro, teve o terceiro maior número de votos para o Legislativo municipal: 8.874. Uma semana depois de ter sido eleita, recebeu por email ataques racistas e homofóbicos. A polícia ainda não identificou os suspeitos.
Carol sabe que o início de seu mandato é apenas o começo de uma luta que deve enfrentar pela frente. “A luta não para. Não é porque a gente conseguiu vencer esta marca [das eleições] que está tudo feito. A estrutura de poder continua sendo machista e racista”, afirmou ela, que integrou a mesa de posse como segunda secretária.
A vereadora disse que pretende fazer muita mobilização social para conseguir apoio a pautas sobre educação, serviços públicos, igualdade das mulheres, antirracismo e direito à cidade, já que “o perfil desta legislatura é muito conservador”.
Ela afirma que sua posse representa um momento histórico para a cidade. “A primeira mulher negra assume uma das cadeiras do Legislativo. Foram mais de 300 anos de muita luta e enfrentamento por parte de mulheres negras e homens negros, que, além de contribuírem diretamente com o processo de desenvolvimento econômico desta capital, são parte da construção cultural e toda a riqueza e diversidade da cidade”, declarou.
A petista também disse que aposta na consciência social e na educação para romper preconceitos históricos na capital do Sul com o maior número de pessoas autodeclaradas pretas, apesar de a cidade ter a imagem vinculada, prioritariamente, a pessoas brancas.
“Se estamos aqui hoje, para o exercício da vereança, é porque acreditamos que a história não é feita só por homens e só por brancos. Por isso, não pode ser contada só por eles. Se assumimos mais este espaço de poder, é porque acreditamos na força popular, porque temos o entendimento das nossas raízes de resistência e ousadia, como povo que luta diariamente para sobreviver”, afirmou.
A eleição da parlamentar ganhou ainda mais força com o movimento antirracista que tomou conta do mundo, em 2020, principalmente a partir do assassinato de George Floyd, 46, nos Estados Unidos.
“A gente não nasce negro, a gente se torna negro. É uma conquista dura, cruel e que se desenvolve pela vida da gente afora”, disse a petista, citando frase da historiadora, filósofa e militante do movimento negro Lélia Gonzales.
Um dos direcionamentos do mandato da vereadora é desnaturalizar violências, desigualdades, fome e pobreza, que, no Brasil, atingem principalmente pessoas negras e pobres.
“Tais coisas não são naturais, nos foram impostas. Se não são naturais, podem e devem ser transformadas. Mudar é difícil, mas não impossível”, asseverou.
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