Siga a folha

Descrição de chapéu
Coronavírus cracolândia

Remoções na cracolândia exibem faceta de uma agenda pública de mortes e de extermínio

O negacionismo de atores públicos quanto à pandemia e as ações de despejo formam uma receita letal

Continue lendo com acesso ilimitado.
Aproveite esta oferta especial:

Oferta Exclusiva

6 meses por R$ 1,90/mês

SOMENTE ESSA SEMANA

ASSINE A FOLHA

Cancele quando quiser

Notícias no momento em que acontecem, newsletters exclusivas e mais de 200 colunas e blogs.
Apoie o jornalismo profissional.

Mais de 250 mil pessoas morreram de Covid-19 no Brasil desde março de 2020. É uma tragédia fomentada e articulada por ações contraditórias e negacionistas dos poderes executivos, tanto o nacional quanto os estaduais e municipais de diversas localidades do país. Esses agentes, em vez de garantirem direitos e protegerem a vida, têm promovido despejos, remoções, violências e cortes de benefícios que expõem cada vez mais famílias ao risco de contágio. Nesse sentido, o que está acontecendo no bairro dos Campos Elíseos na região da cracolândia, no centro do município de São Paulo, mostra algumas das inúmeras facetas de uma agenda pública de mortes e de extermínio.

Idealizado para abrigar a elite paulistana como o primeiro bairro planejado da cidade, os Campos Elíseos abrigam hoje uma complexa trama físico social composta por pessoas em situação de rua, edifícios históricos e tombados, equipamentos públicos, ruas de comércio cotidiano e comércio especializado, pensões, ocupações, cortiços, além da cena de uso aberto de drogas.

Todo esse caldeirão tem operado como justificativa para que o governo do estado e a prefeitura de São Paulo, desde antes da pandemia, venham empenhando recursos e projetos para transformar a região a partir de um ideal de cidade destoante da realidade local. Além de infringirem a legislação municipal –ao não cumprirem adequadamente todos os pressupostos participativos previstos no Plano Diretor–, esses projetos prevêem a construção de prédios da parceria público-privada que estão expulsando e despejando famílias da região sem a garantia de atendimento adequado.

Neste sábado (6), estão previstas novas remoções para as quadras conhecidas como 37 e 38, ao redor do Largo Coração de Jesus. Esta previsão ocorre mesmo com o entendimento da Corregedoria da Central de Mandados do Tribunal de Justiça de São Paulo e de uma recomendação do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) de que não é o momento de remover ninguém. Parece óbvio dizer mas o óbvio precisa ser dito: para que as pessoas fiquem em casa é preciso que elas tenham casa. Se as remoções se efetivarem, para onde vão essas famílias? Elas terão condições de viver e se isolar em uma nova moradia? De que maneira o executivo garantirá que essas remoções sejam feitas com todos os protocolos de segurança, para evitar que elas se contaminem pela Covid-19?

Cabe lembrar que, segundo o último –e já subdimensionado– censo da população em situação de rua, havia para mais de 24 mil pessoas vivendo nessas condições.Que políticas estão sendo desenhadas para acolher e dar segurança para essas pessoas? O poder executivo fechou diversos serviços da região das quadras 37 e 38, o que dificultou o acesso ao cuidado das pessoas que vivem nesse território, que é permeado pelo descaso e pela especulação imobiliária.

A ausência de vacinas e de um plano real nacional de prevenção à Covid-19, o negacionismo de muitos atores públicos desincentivando medidas preventivas (como usar máscaras e evitar aglomerações), somados às ações de despejo e remoções são alguns dos ingredientes de uma receita letal. Tudo nos leva a crer que os mais de 250 mil mortos não são um acaso, mas um projeto.

Maria Angélica Comis

Centro de Convivência É de Lei

Felipe Moreira

Conselho Gestor da Quadra 36

Carmen Lopes

Coletivo Tem Sentimento

Nathália Oliveira

Iniciativa Negra por Uma Nova Política de Drogas

Receba notícias da Folha

Cadastre-se e escolha quais newsletters gostaria de receber

Ativar newsletters

Relacionadas