Busca pela fé aumenta no mundo virtual e no presencial em São Paulo
Mais fiéis estão frequentando igrejas e templos para rezar e meditar, mostra Datafolha
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Por 118 anos consecutivos, no primeiro domingo de maio, fiéis das 307 paróquias da Arquidiocese de São Paulo se juntaram aos 920 padres, 108 diáconos, seis bispos e ao arcebispo em exercício e viajaram 170 quilômetros em romaria para Aparecida a fim de agradecer, pedir graças e apresentar intenções à padroeira do país.
Segundo dados da Arquidiocese, cerca de 20 mil pessoas encheram ônibus e carros para rezar no maior santuário mariano do Brasil nos anos de 2018 e 2019. No ano passado e neste 2021, as 119ª e 120ª edições do evento atraíram seis vezes mais fiéis.
Somente o arcebispo de São Paulo, dom Odilo Scherer, seis bispos e dez padres compareceram à basílica em Aparecida. Por causa da pandemia, o evento foi transmitido ao vivo pela TV Aparecida e pôs o canal entre os quatro mais assistidos no horário. Dados da TV apontam que cerca de 120 mil fiéis acompanharam cada uma das missas.
Segundo o coordenador de Pastoral da Arquidiocese de São Paulo, padre Tarcísio Marques Mesquita, a procura por missas aumentou durante a pandemia e 95% das igrejas da capital paulista passaram a transmitir as liturgias online.
“Antes do lockdown, durante a semana tinha apenas uma missa noturna na minha paróquia, no Tatuapé, e agora tenho duas missas todos os dias, sempre transmitidas em nossos canais do Facebook e YouTube”, diz. “Um olhar, uma palavra, um consolo tem feito muita diferença nestes tempos”, afirma o padre.
Quando o fim da pandemia for decretado, ele brinca que deixará suas mãos nos Alcoólicos Anônimos. “Os 12 passos não serão suficientes para acabar com o nível de álcool delas. Cabe aos padres dar o exemplo. Sempre estou de máscara, passo álcool gel com fartura nas mãos várias vezes ao dia e digo aos fiéis: não é banho de gato, tem de limpar bem”, diz.
A pesquisa de hábitos dos paulistanos do Datafolha corrobora o comportamento dos frequentadores das missas virtuais do padre Tarcísio. Dos 815 entrevistados em todas as regiões da capital, 82% afirmaram ter rezado ou meditado durante a pandemia. Destes, 38% disseram pretender aumentar as práticas. Se considerarmos os entrevistados que declararam ter somente o ensino fundamental, o percentual dos que disseram rezar ou meditar na quarentena chega a 90% na última apuração.
O índice também é mais elevado entre as pessoas com renda de mais de 2 a 3 salários mínimos (91%), entre as pessoas com 60 anos ou mais (90%) e entre as mulheres (86%). Na pesquisa de 2020, o resultado dos que disseram rezar e meditar foi de 80%.
Há mais pessoas frequentando igrejas e templos para rezar ou meditar entre os entrevistados de 2021. Em 2020, 38% disseram ter deixado suas casas com esse fim. Na última pesquisa, o índice flutuou para 45% dos entrevistados. Na do ano passado, vale ressaltar, não havia vacina disponível e fazia menos de um mês que a visita a templos e igrejas estava autorizada.
Todas as igrejas evangélicas da cidade de São Paulo adotaram algum tipo de apoio virtual a seus fiéis e até agora 40% deles retornou ao culto presencial. O governo autoriza 60% da ocupação das igrejas. As informações são da União Nacional das Igrejas e Pastores Evangélicos, a Unigrejas, entidade com 50 mil pastores de diferentes denominações evangélicas.
“Desde o início da pandemia adotamos cultos online, serviços de atendimento ao fiel, videoconferências, telefonemas a quem precisa”, diz o bispo Eduardo Bravo, presidente da Unigrejas. “No Brasil, as instituições religiosas estão em lugares aonde o estado não chega”, afirma.
O Centro de Meditação Shambala do Brasil desativou o endereço físico da instituição depois do início da pandemia e as atividades vão permanecer online por tempo indeterminado. Mais do que um aumento de participantes, a recém-empossada diretora da instituição, Paula Gama, notou mais comprometimento e constância nas práticas e estudos de meditação.
“No Shambala falamos em bravura e compaixão. Ou em ser gentis conosco mesmo enfrentando o medo e a incerteza; e estar aberto ao outro sem se deixar derrubar pela tristeza ou pelo sofrimento”, afirma. “Em tempos de inseguranças, perdas reais e emocionais como estes que estamos vivendo, a conexão com o sagrado traz compreensão."
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