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Cena de homem sendo libertado é final feliz ilusório, em meio a massa de inocentes invisíveis

Repórteres contam apuração de série Inocentes Presos, que durou mais de um ano

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São Paulo

A imagem do trabalhador rural José Aparecido Alves Filho, de braços dados com familiares, saindo da penitenciária, encerra a série Inocentes Presos.

Após mais de um ano revirando milhares de páginas de processos e ouvindo histórias para este esforço de reportagem, é forçoso concluir que o final feliz de José Aparecido é ilusório.

Os personagens entrevistados pela reportagem ao longo da série, após anos de vida encarcerados injustamente, tiveram recomeços marcados por prejuízo financeiro, sequelas psicológicas em toda a família e com pouca perspectiva de reparação.

Além disso, por mais numerosos que pareçam, tudo indica que os casos que vêm à tona são exceções. Muitas pessoas só foram libertadas após virarem notícia, e é impossível saber o tamanho da massa de inocentes invisíveis ainda atrás das grades.

Durante e após a publicação da série Inocentes Presos, por exemplo, a reportagem continuou recebendo relatos de diversos outros casos de possíveis injustiças ainda não noticiadas e cujas vítimas continuam presas.

O próprio caso de José Aparecido chegou após reportagem contar, ainda em 2019, a história do cabeleireiro Sidney Sylvestre Vieira, preso sem provas. No caso dele, após a reportagem de Rubens Valente e Rogério Pagnan, ambos parte da equipe que iria compor a série Inocentes Presos, houve reviravolta.

A frequência com que histórias como essas pipocam no noticiário e chegam às Redações despertou a atenção da equipe, que, antes da pandemia, resolveu coletar casos e catalogar os motivos das prisões injustas no país.

Da lista de casos jogados numa página de Word à planilha completa, com uma centena de nomes com detalhes que vão da cor dos presos ao motivo da prisão errônea, foi um caminho longo e cheio de obstáculos.

A reportagem buscou casos por meio de notícias, que, por vezes, limitavam-se a notinhas em jornais locais. Também obteve histórias conversando com defensores públicos, advogados e ONGs.

Não raro a equipe teve portas fechadas à sua apuração, de entrevistas negadas por autoridades ao veto à sua presença em audiência.

Dada a falta de transparência do Judiciário, nem todos os processos, embora públicos, estão acessíveis ao público geral. É preciso garimpar as informações com réus, advogados, em sites que raspam esse tipo de informação das páginas oficiais e até em páginas da internet que já saíram do ar.

A montagem desse enorme quebra-cabeças acabou revelando um sistema cujas falhas começam com erros na investigação policial e terminam sendo chancelados por promotores e juízes. Os erros dificilmente são reconhecidos e, mesmo quando são, ninguém é responsabilizado.

Ao entrevistar pessoas como o ambulante Wilson Rosa, o empresário Paulo Pereira, o ajudante Aldeci Madeiro e o motorista de aplicativo Douglas Wallacy e outros que nem sequer foram citados na série, a equipe viu na prática como os efeitos desses problemas jamais se apagarão.

Inocentes presos jamais voltam a ser vistos como inocentes. Andarão com alvará de soltura no bolso, terão de mostrar notícias sobre a injustiça que sofreram a policiais desconfiados e, às vezes, vão pensar duas vezes antes mesmo de pisar na rua.

No caso de José Aparecido, familiares compraram edições da Folha para mostrar aos que não acreditam na inocência do trabalhador rural.

A Folha acompanhou a situação da família, desolada, em dezembro de 2019. Voltou ao sítio de José Aparecido, em Tuiuti, interior de SP, um ano e meio depois, em um contexto completamente diferente, e viu a queima de fogos em comemoração à soltura dele.

A condenação foi anulada pelo ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal, mas o caso segue tramitando em primeira instância. O trabalho de reportagem não acabou em relação a esse e outros casos presentes na série.​

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