Foliões se reúnem no centro do Rio para pular Carnaval e celebrar a cultura negra
Com show de Karol Conká, evento atraiu centenas de pessoas neste domingo (27)
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Os foliões ostentavam cabelos afros e tranças multicoloridas. Dançavam não ao som de marchinhas de Carnaval, mas embalados por hip-hop, rap e R&B, músicas entoadas por artistas negros. Reunidos na Cidade Nova, centro do Rio, esses foliões queriam de uma só vez celebrar o Carnaval e valorizar a cultura negra.
"Se for para enaltecer alguém que sejam pessoas negras. Ao frequentar um evento black, vou estar dando o meu dinheiro para pessoas negras. Quero ver negros empresários e ajudar a gerar emprego para eles", disse o ator Bruno Eugênio, 28, enquanto esperava para entrar no Kilariô Afro Bloco, festa que acontece na quadra da São Clemente e conta com a presença de artistas como Karol Conká, MC Carol e Tasha e Tracie.
Ao lado de Bruno, a técnica em enfermagem Leandra Siqueira, 27, acrescenta que o evento é uma forma de aproximar pessoas negras.
"Me sinto muito mais confortável em um ambiente onde há pessoas que se parecem comigo. A gente se enxerga no próximo, não sofre com aqueles olhares mais agressivos dos outros lugares", diz ela. "É um evento que agrega muitos valores para a cultura negra."
O Afro Bloco é uma iniciativa do coletivo Kilariô, projeto que nasceu em 2014 para valorizar a cultura negra por meio do entretenimento. Fundador do coletivo, Wes Silva, 32, diz que o projeto nasceu depois que ele sofreu racismo em uma festa.
"Era um ambiente totalmente branco e eu era um dos únicos pretos ali. Eu fui conversar com uma menina e ela falou: 'Não chega em mim, porque eu não fico com preto'. Isso me machucou de uma forma que me fez querer criar um ambiente onde eu me sinta bem." Para ele, o bloco é uma forma de aproximar pessoas negras e fazer com que elas se sintam confortáveis.
"Esses eventos são importantes para legitimar a nossa causa. Antigamente, quando o projeto surgiu, quase não se viam eventos pretos feitos por pessoas negras."
A estudante Gabriela Rodrigues, 20, decidiu ir ao evento por se sentir mais à vontade em ambientes que celebram a cultura negra. "Um evento voltado para a comunidade negra é um atrativo muito grande. É complicado, porque a gente tem pouco espaço nosso para frequentar. Então, quando a gente tem um evento para a galera preta, é muito maneiro. A gente fica mais à vontade em estar com os nossos."
Moradora de Nilópolis, na Baixada Fluminense, ela diz que está animada para o evento, mas que está tendo um Carnaval baixo astral.
A jovem considera que a proibição dos blocos de rua acabou privatizando a festa, fazendo com que ela seja acessível apenas para quem pode pagar.
"Acho hipocrisia liberar aglomeração em espaço privado e proibir em espaço aberto. Acho injusto porque o Carnaval é a festa das ruas, mas ele está bem elitizado neste ano."
Em janeiro, o prefeito Eduardo Paes (PSD) cancelou o Carnaval de rua em razão do aumento de casos e de internações por Covid na capital fluminense, cenário causado pela variante ômicron. O Carnaval do Sambódromo, no entanto, foi poupado. Em conjunto com São Paulo, Paes decidiu adiar os desfiles para o dia 21 de abril, quando se comemora o feriado de Tiradentes.
Festas privadas também foram permitidas desde que tenham autorização da prefeitura. A administração municipal exige que os frequentadores apresentem certificado de vacinação tanto em eventos abertos quanto nos fechados. Em ambos os casos, não há limite de lotação.
Nas festas em ambientes fechados, os participantes devem usar máscara. Em lugares abertos, o uso é facultativo.
Como estavam em sua maioria na área externa da quadra, os frequentadores do Afro Bloco não usavam máscara. No entanto, algumas pessoas se concentravam no setor interno da quadra sem usar o item.
Wes diz que o evento cobra do público a apresentação do certificado de vacinação e o uso de máscaras. Ele diz, porém, que é difícil controlar o uso do item. "A gente vai cobrar da galera, mas não tem como ficar em cima de todo mundo", diz o publicitário.
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