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Mesmo com orçamento recorde, Prefeitura de São Paulo desiste de promessas

Outro Lado: Gestão Ricardo Nunes diz que metas passam por escrutínio para análise de viabilidade

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São Paulo

Com R$ 35 bilhões em caixa, o prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), desistiu de inaugurar quatro terminais de ônibus e dois corredores BRT e, também, de construir 11 piscinões em locais afetados pelas enchentes.

A gestão publicou uma revisão do Programa de Metas, estabelecido para o quadriênio de 2021 a 2024, com modificações em pelo menos 27 propostas. O novo texto, em boa parte, suaviza o comprometimento da prefeitura.

A meta 39, por exemplo, passou de "reduzir o índice de mortes no trânsito para 4,5 por 100 mil habitantes" para a promessa de "realizar 18 ações para a redução do índice de mortes no trânsito".

Já a 68 na qual se compromete em "atingir 100% de cumprimento das metas individuais de redução da emissão de poluentes e gases de efeito estufa pela frota de ônibus" mudou para "reduzir a emissão de poluentes e gases de efeito estufa".

Terminal de ônibus na zona leste de São Paulo - Danilo Verpa - 31.jan.2023/Folhapress

Dos 14 piscinões, a prefeitura entregou 3, sendo o Paciência, Pôlder R-3 Aricanduva e o Taboão até dezembro do ano passado. Na revisão do programa, a administração substituiu a construção de piscinões por "230 obras no sistema de drenagem".

Segundo a comunicação da prefeitura, a Secretaria de Infraestrutura Urbana e Obras está empenhada na construção de seis novos piscinões e que, com a alteração no plano de metas, "ampliou as ações de combate aos impactos causados por inundações, ampliando de 14 para 15 as obras em piscinões e acrescentando centenas de outras obras capazes de atenuar a mancha inundável ou dirimir os problemas gerados por enchentes, como por exemplo: obras de contenção em áreas de risco geológico e canalização de córregos".

Sobre o compromisso com a redução de mortes no trânsito, a pasta ressalta que foi acrescida a meta de implantar 200 quilômetros de faixas azuis para motociclistas. "A Prefeitura permanece tendo o objetivo de tornar-se uma das cidades com o trânsito mais seguro do mundo", afirma a secretaria.

A área de mobilidade, segundo especialistas, foi a mais prejudicada na revisão do Programa de Metas. Das 77 metas que compõem o plano inicial, a gestão Nunes excluiu apenas 1 de suas obrigações: a de ampliar em 420 quilômetros a extensão de vias atendidas pelos ônibus.

A prefeitura disse, em nota, que o número de usuários da rede de transporte municipal hoje equivale a 80% do registrado no período pré-pandemia.

"Todas as regiões da cidade são cobertas pelo transporte público por ônibus, que percorrem 2,3 milhões de quilômetros/dia, em 4,7 mil quilômetros de vias atendidas por ônibus, chegando às regiões mais distantes do Centro, como a Ilha do Bororé, na zona sul", diz a nota.

Ao trocar o verbo "implantar" por "viabilizar", como no caso dos quatro terminais (São Mateus, Jardim Miriam, Novo Itaquera e Itaim Paulista) e dois corredores de BRT nas vias Aricanduva e Radial Leste, a própria gestão admite que dificilmente conseguirá entregar as obras até o final de 2024.

"Tais intervenções geram impactos sociais e demandam tempo para cumprir as exigências legais, por exemplo, avaliação dos locais e diálogo com a comunidade, de modo a minimizar possíveis transtornos", afirma a Secretaria de Comunicação.

A prefeitura já gastou R$ 23 milhões com a implantação de corredores de BRT e outros R$ 6 milhões com os novos terminais.

Levantamento feito pela Rede Nossa São Paulo mostra que os paulistanos que residem na zona leste, onde ficam a avenida Aricanduva e a Radial Leste, levam três horas por dia, em média, para se locomover na capital.

Na área de mobilidade, a prefeitura realizou pouco mais de 10% das metas de construir 300 quilômetros de estruturas cicloviárias (ciclovias, ciclofaixas, ciclorrotas) e 40 quilômetros de novos corredores de ônibus.

Para cumprir com esta última, a prefeitura estuda implantar uma via expressa para ônibus no corredor Norte-Sul depois de concluir que a construção do corredor Itaim Paulista/São Mateus exigiria grande impacto social e desapropriações de imóveis.

Segundo relatório de execução anual do Programa de Metas, a gestão Nunes concluiu 13 dos 77 itens e lançou nove novas metas, além de excluir a da cobertura de vias atendidas pelos ônibus. Com dois anos de mandato, o prefeito terá, então, de entregar 72 das 86 promessas estabelecidas.

"A prefeitura possui o maior orçamento da história, mas com dificuldades para viabilizar essas promessas. Pode ser que esteja com dificuldades de gestão ou, como já aconteceu, estão deixando [as inaugurações] para o ano que vem, perto da eleição", afirma o sociólogo Igor Pantoja, coordenador de mobilização da Rede Nossa São Paulo.

De acordo com a Secretaria Municipal de Fazenda, a administração conta com R$ 34,9 bilhões em caixa.

"Os recursos atuais do Tesouro Municipal refletem o bom momento da economia paulistana após a queda nos indicadores econômicos causados pela pandemia e não significam falta de empenho da gestão municipal no enfrentamento aos problemas da cidade", diz a pasta.

Apesar do cofre cheio, a gestão Nunes vem sendo cobrada por problemas de zeladoria, sobretudo a má conservação de calçadas e ruas. A prefeitura, que se propôs a recuperar 20 milhões de metros quadrados de vias públicas, conseguiu apenas 3,6 milhões.

Com relação à manutenção de calçadas, foram construídos ou reformados 333 mil metros, isto é, só 22% da proposta de 1,5 milhão de metros quadrados.

Na área de educação, o prefeito não entregou nenhuma nova unidade, seja das 45 unidades escolares seja dos 12 CEUs (Centros Educacionais Unificados).

A gestão diz que concluiu licitação para manutenção e operação de cinco CEUs (Ermelino Matarazzo, Cidade Líder, Imperador em Sapopemba, Cidade Ademar e Grajaú) e que publicará edital para outras cinco unidades —Brasilândia, Grajaú, Vila Curuçá, Campo Limpo e Jardim Ângela—, além de prospectar a instalação das outras duas unidades restantes.

Sobre as escolas, a administração contabiliza que encerrou o ano passado com 28 obras em andamento, e as unidades vão atender 9.000 alunos.

A Secretaria de Comunicação afirma, em nota, que os compromissos foram elaborados para todo o quadriênio (2021 a 2024) e, assim, "não há expectativa de cumprimento acentuado na metade do prazo". "Todas as novas metas, ampliações e alterações passaram por escrutínio técnico, administrativo e orçamentário para análise de viabilidade", afirma a pasta.


Revisão do Programa de Metas

Meta inicial Alteração
Construir 14 novos piscinões Realizar 230 obras no sistema de drenagem, visando a redução das áreas inundáveis e mitigação dos riscos e prejuízos causados à população
Reduzir o índice de mortes no trânsito para 4,5 por 100 mil habitantes Realizar 18 ações para a redução do índice de mortes no trânsito
Implantar dez projetos de Urbanismo Social Implantar dez Territórios Educadores
Implantar corredores de ônibus no modelo BRT (Bus Rapid Transit) na avenida Aricanduva e na Radial Leste Viabilizar a implantação de corredores de ônibus no modelo BRT (Bus Rapid Transit) na avenida Aricanduva e na Radial Leste
Implantar quatro novos terminais de ônibus Viabilizar a implantação de quatro novos terminais de ônibus
Atingir mais de 50% de cobertura vegetal na cidade de São Paulo Plantar 180 mil árvores nativas de modo a expandir o bioma da mata atlântica e manter a cobertura vegetal do município
Reduzir em 15% o total de carga orgânica (proveniente da cidade de São Paulo) lançada no reservatório Guarapiranga Promover 17 mil ligações domiciliares de esgoto no território municipal da Bacia Hidrográfica do Reservatório Guarapiranga e Billings
Atingir 100% de cumprimento das metas individuais de redução da emissão de poluentes e gases de efeito estufa pela frota de ônibus do transporte público municipal Reduzir a emissão de poluentes e gases de efeito estufa pela frota de ônibus do transporte público municipal
Remodelar as praças de atendimento das subprefeituras para que centralizem todos os serviços municipais no território Descomplica SP Remodelar as praças de atendimento localizadas nos territórios das subprefeituras - Descomplica SP

Fonte: Prefeitura de São Paulo

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