Nunes articula apoios de olho em reeleição para Prefeitura de SP

Político mira eleitores de direita em 2024, enquanto partidos pressionam por melhores resultados da gestão

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São Paulo

A quase 20 meses da eleição municipal e com a cidade de São Paulo enfrentando problemas de zeladoria, o prefeito Ricardo Nunes (MDB) se esforça na construção de alianças políticas que fortaleçam a sua candidatura no ano que vem.

A eleição de 2024 será o grande teste para o chefe do Executivo paulistano, que chegou ao poder após a morte de Bruno Covas em maio de 2021.

O prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB) - Ronny Santos - 6.set.2022/Folhapress

Empresário, Nunes entrou para política como vereador paulistano, em 2012, eleito com 30,7 mil votos, e foi reeleito em 2016 com 54,6 mil. Não teve sucesso, porém, quando tentou uma vaga na Câmara dos Deputados em 2018. Como comparação, Covas recebeu 3,1 milhões de votos no segundo turno de 2020.

A ambição do prefeito é se isolar como o representante mais poderoso da direita. Para isso, ele se aproximou do PP e negocia com o PL, do ex-presidente Jair Bolsonaro, e o Republicanos, que em 2020 lançou a candidatura de Celso Russomanno à prefeitura.

Aliados de Nunes se escoram nos votos do eleitorado com aversão aos partidos de esquerda. Guilherme Boulos (PSOL), deputado federal mais votado em São Paulo em outubro, também prepara sua campanha à prefeitura em 2024. Ele ficou em segundo lugar na última disputa, com 2,1 milhões de votos no segundo turno contra Covas.

Nunes disse, em entrevista à Folha, que os apoios estão sendo consolidados de forma natural e que não acredita que a eleição municipal será polarizada. "Sou do centro, tenho apoio do Solidariedade, que é de esquerda, e da direita. Vamos conseguir uma candidatura que reúna várias forças na cidade", disse o prefeito.

Mas, no meio desse caminho, Nunes se depara com outros possíveis concorrentes do seu mesmo espectro político. O mais cotado é o deputado federal e ex-ministro de Bolsonaro Ricardo Salles (PL).

Salles já manifestou ao presidente do partido, Valdemar Costa Neto, o seu desejo de concorrer. Nunes deposita sua fé no apoio de uma ala da sigla liderada por Antônio Carlos Rodrigues, deputado e ex-ministro dos Transportes no governo de Dilma Rousseff (PT).

"O presidente do diretório do PL em São Paulo, Isac Félix, me fala que vão estar comigo, ele é um dos grandes entusiastas da minha reeleição. Sei do [desejo] do Ricardo Salles, respeito", disse Nunes.

Atualmente, o prefeito reúne apoios do União Brasil, PSDB, Solidariedade e Podemos, além da sua legenda, o MDB.

Na mais recente investida para ganhar apoio, Nunes se encontrou com o presidente do PP, Ciro Nogueira, em janeiro e, semanas depois, entregou a Secretaria de Inovação e Tecnologia para o Delegado Bruno Lima, que é da sigla.

"Maurício Neves [deputado pelo PP], Ciro Nogueira. Quero agradecer a confiança de vocês, a parceria", disse o prefeito na posse de Lima.

Ciro nem estava na sede da prefeitura naquele dia. O prefeito negou que o ato tenha relação com a sua candidatura. "Tudo o que eu faço, em qualquer momento, [dizem que] é por causa da eleição. Se troca um secretário, inaugura uma obra, é por causa da eleição. Tenho obrigação de trabalhar pela cidade", afirmou.

Com esse movimento, o chefe do Executivo municipal acolheu o PP em seu governo e, de quebra, deixou sob suas asas um possível adversário no pleito de 2024. Delegado Bruno Lima dizia estudar a possibilidade de concorrer à Prefeitura de São Paulo.

Além de lideranças partidárias, o prefeito recebeu neste mês em seu gabinete o cientista político Antonio Lavareda, que trabalhou em diversas campanhas eleitorais, incluindo duas de Fernando Henrique Cardoso (PSDB) à Presidência, e também foi consultor do então presidente Michel Temer (MDB).

A Folha perguntou qual foi pauta desse encontro, mas a Secretaria de Comunicação da prefeitura não respondeu até a publicação deste texto.

Zeladoria e pesquisas são desafio para atrair siglas

Nunes tenta convencer outros partidos, como o Republicanos, sobretudo para alcançar o apoio do governador Tarcísio de Freitas. Nos bastidores, integrantes da sigla avaliam que o atual prefeito precisa entregar mais resultados e pretendem analisar as pesquisas sobre a gestão e a imagem do político. Dados do último levantamento do Datafolha, publicado em julho de 2022, mostram que Nunes era aprovado por 18% da população e que 31% classificavam a gestão como ruim ou péssima.

Outra sigla cobiçada é o PSD, do ex-prefeito Gilberto Kassab. Este último já avisou que, se a gestão estiver bem avaliada e o município em bom estado de conservação, concederá apoio ao prefeito. São justamente as condições nas quais Nunes encontra maior desafio.

A Folha mostrou, no dia 5 de fevereiro, que o acúmulo de lixo e a má conservação de ruas e calçadas de São Paulo tornaram-se uma das principais dores de cabeça para a gestão.

O número de reclamações dos moradores feitas à prefeitura por dia aumentou. Os dados mais recentes, de janeiro a setembro de 2022, apontam 1.221 queixas relacionadas à limpeza e a outros problemas de manutenção ante 1.044 contabilizados no mesmo período de 2021.

Houve aumento também em relação aos pedidos de poda emergencial de árvores ou avaliação da prefeitura para sua remoção, sendo 57.783 registros em 2022 —3.948 a mais comparado com 2021.

O prefeito classificou como "inconcebível qualquer pessoa de bom senso" fazer comparações entre 2022 e 2021. "O ano de 2021 foi o ápice da pandemia, as pessoas estavam em casa, e nós focados em vaciná-los. Não faltou leito e São Paulo se tornou a capital mundial da vacina. Estávamos enfrentando o negacionismo, salvando vidas", disse o gestor.

Sob pressão, Nunes tem cobrado mais empenho dos secretários e dos subprefeitos, até mesmo em tom de ameaça. Ao demitir Richard Haddad Junior da Subprefeitura de Pinheiros (zona oeste), afirmou: "Qualquer subprefeito ou secretário que não tiver capacidade eu vou trocar, porque é minha obrigação".

Haddad Junior foi exonerado depois que o próprio prefeito gravou um vídeo no qual mostrava um bueiro entupido no bairro Itaim Bibi, área de responsabilidade da administração regional.

"Senhores subprefeitos, se eu consigo olhar os bueiros entupidos, os senhores, por favor, façam uma verificação em todos os bueiros na sua região, da sua subprefeitura", afirmou Nunes.

Dados da ouvidoria da prefeitura apontam que a Secretaria das Subprefeituras foi a que mais recebeu manifestações em 2022, com uma média de 435 relatos da população. No ano anterior, a pasta havia ficado em segundo lugar, atrás da Secretaria de Educação, com uma média de 407 registros.

Além das falhas na zeladoria, há outros gargalos para a gestão de Nunes, como o aumento da população em situação de rua, a degradação do centro e o preço da tarifa de ônibus, cujo reajuste foi congelado no ano passado em virtude da campanha, depois derrotada, de Rodrigo Garcia (PSDB) ao Palácio dos Bandeirantes.

Para o cientista político Paulo Niccoli Ramirez, professor da ESPM, a aposta do prefeito na onda conservadora é arriscada. "Vale dizer que [Fernando] Haddad venceu na capital para governador, o que pode ser um indício de que essa onda pode estar se esgotando", afirma Ramirez, sobre o ex-prefeito e atual ministro da Fazenda de Lula (PT) que concorreu ao Bandeirantes no ano passado.

"E esses problemas da cidade, ainda mais envolvendo a falta de manutenção de espaços públicos e grande quantidade de pedintes, poderão afetar a imagem dele, que já é bem discreta", analisa.

O prefeito tem destacado nos seus discursos e entrevistas feitos de sua gestão na área de assistência social. Recentemente, também passou a mandar recados nas redes sociais a políticos que fazem oposição ao seu governo, como Boulos e a deputada federal Tabata Amaral (PSB), outra cotada para disputar a prefeitura.

Sobrou até uma mensagem velada para Fernando Haddad. "Eu não gosto de pessoas que trabalham pouco. Dou o exemplo na prefeitura, sou o primeiro a chegar e o último a sair. Já teve prefeito que não chegava cedo e não deu certo", afirmou Nunes.

Esse mesmo tipo de crítica era feito ao petista em 2016 pelo comentarista Marco Antonio Villa, então da rádio Jovem Pan. Na época, Haddad afirmou que o historiador comentava sua agenda pública "com o conhecimento de quem nunca administrou um boteco".

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