Siga a folha

Descrição de chapéu Obituário Jayme Figura (1959 - 2023)

Mortes: Artista plástico baiano, usava 'armadura' e fazia esculturas de ferro

Jayme Figura se tornou uma figura emblemática do Centro Histórico de Salvador

Assinantes podem enviar 5 artigos por dia com acesso livre

ASSINE ou FAÇA LOGIN

Continue lendo com acesso ilimitado.
Aproveite esta oferta especial:

Oferta Exclusiva

6 meses por R$ 1,90/mês

SOMENTE ESSA SEMANA

ASSINE A FOLHA

Cancele quando quiser

Notícias no momento em que acontecem, newsletters exclusivas e mais de 200 colunas e blogs.
Apoie o jornalismo profissional.

Salvador

A verve performática de Jayme Figura emergiu nas ruas de Salvador (BA) no início dos anos 1990. À época, ele se dedicava mais à pintura, inspirado em obras de artistas expressionistas. A ideia de explorar a arte bruta com o próprio corpo surgiu após ouvir uma opinião sobre o seu visual.

"Ele foi a uma exposição no Pelourinho e me convidou para ir ao ateliê dele, onde mostrou algumas pinturas, ainda começando. Mas eu destaquei nele a roupa. Eu disse: 'Jayme, você é um artista performático, pois usa seu corpo como instrumento da obra'. Foi aí que despertou nele essa questão da performance", recorda o também artista visual Leonel Mattos.

Amigo de Jayme há cerca de 30 anos, Mattos conta que, inicialmente, a vestimenta fora adotada como forma de proteção.

Jayme Figura (1959-2023) - Reprodução/Instagram/Leonel Mattos

"Até então, ele tinha criado essa roupa pela necessidade de não se mostrar. Não se sentia tão seguro andando na rua. Começou com uma roupa toda preta. Quando bateram nele, ele botou a máscara para se precaver. Foi aí que as pessoas começaram a se assustar", conta.

As máscaras, que vieram depois, escondiam certa timidez, na opinião do amigo. "Jayme era uma pessoa dócil", disse Mattos, uma das poucas pessoas a terem visto o rosto do artista em seus mais de 40 anos de atividade.

Jayme tinha um ateliê no Carmo, no Centro Histórico da capital baiana. Batizado de Sarcófago, o espaço guardava um caixão no qual costumava dormir. Hábito que, para muitos, não passava de uma lenda. "Ele dormia no caixão de fato", atesta o amigo.

Influenciado pelo cotidiano urbano e na simbologia sacra, Jayme Figura utilizava itens recicláveis, como alumínio, plástico, papel e madeira. Assim, deu vida ao Homem Lata, como ficou conhecido em todo canto da cidade.

Autodidata, Jayme viu suas criações correrem Brasil afora. Atualmente, trabalhava com uma encomenda de 40 quadros para uma galeria de arte em São Paulo. Recentemente, uma de suas roupas esteve em uma mostra no Masp.

Nascido em Cruz das Almas, cidade do Recôncavo baiano, Jaime Andrade Almeida, além de artista plástico, foi poeta, músico e desenhista.

Filho de dona Estefânia e seu Arlindo, era o mais novo entre oito irmãos.

Mudou-se para Salvador aos cinco anos de idade e foi morar com a família no bairro do Alto do Peru. Ao completar 18, alistou-se no Exército —farda que vestiu por alguns anos e que tirou para trocar alianças.

"Ele fugiu do Exército para casar com a minha mãe", diz Pablo Almeida, 36, o filho mais novo.

Nesse mesmo período, Jayme começou a trabalhar em uma gráfica e a dar vazão ao lado artístico. A face jamais revelada em público era parte da performance. Não à toa, teve atendido o desejo de ser velado com o caixão fechado.

Jayme Figura morreu no dia 26 de novembro, aos 64 anos, vítima de um infarto. Ele deixa a esposa, dois filhos e um neto.

coluna.obituario@grupofolha.com.br

Veja os anúncios de mortes

Veja os anúncios de missa

Receba notícias da Folha

Cadastre-se e escolha quais newsletters gostaria de receber

Ativar newsletters

Relacionadas