Mortes: Ajudou a criar a feira de antiguidades da praça Benedito Calixto, em SP
Horieta Novais foi ativista política e amava dançar e viajar
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A luta política de Horieta Novais começou na adolescência, quando, aos 17 anos, viajou pelo Brasil para denunciar a prisão de sua mãe, Elisa Branco. A matriarca foi detida e ficou famosa em 1950, após protestar durante um desfile militar contra a participação de brasileiros na Guerra da Coreia.
Ativista de movimentos sociais e da luta pela anistia e pela redemocratização do país, Horieta fez uma "militância raiz", como define sua filha, Ana Novais. "Mulher forte, briguenta. No espaço político tinham medo dela, pois falava o que pensava, na hora que queria. Ela dizia que não tinha rabo preso", conta, lembrando que a mãe sempre gostou de política, mas nunca quis se candidatar a nenhum cargo.
Horieta foi militante durante toda vida. Entre outras causas que abraçou, ajudou a criar a feira da praça Benedito Calixto, em Pinheiros, na zona oeste de São Paulo. Sua paixão por antiguidades e artesanato a motivaram a fazer do espaço um ponto turístico, tornando-se presidente da Associação dos Amigos da Benedito Calixto.
"Foi uma briga, porque ela nunca permitiu que a prefeitura ocupasse o lugar da associação. Brigou com todos prefeitos e vereadores que ficavam com olho gordo na feira. Ali não havia falcatrua nem apadrinhamento. As regras sempre foram cumpridas, e ela nunca recebeu nada para trabalhar na organização. Todo o dinheiro arrecadado era para cuidar da praça e da feira", afirma a filha. Com isso, passou a dar assessoria para outras feiras de São Paulo.
Nascida em Barretos (SP), Horieta foi da Juventude Comunista, como sua mãe. Também integrou o Teatro de Arena e gostava de atuar, embora não tenha se profissionalizado. Chegou a trabalhar como secretária, mas gostava mesmo era de dançar, cantar e viajar.
"Foi uma dançarina notável de samba e de qualquer dança de salão. Em Paraty [RJ] havia um grupo que fazia serestas e todos saíam pela cidade cantando nas madrugadas. Era lindo! É o que guardo dela, essa alegria e vontade de viver", conta Ana.
As lembranças mais marcantes da filha passam pelas viagens com a mãe e a tia.
"Elas eram destemidas. Conhecemos o Brasil acampando. Minha tia tinha uma perua DKW e uma barraca, e viajávamos muito, sem os pais/maridos, que nunca gostaram dessas aventuras. Mas isso nunca as impediu de colocar os pés na estrada."
Horieta gostava de reunir a família e amigos. Acolhedora, tinha sempre comida disponível para quem aparecesse. Foi uma avó amorosa e presente, mas não uma típica dona de casa. "Meu pai sempre dizia que o melhor lugar para fugir dela era a casa. Ela sempre estava na rua, agitando."
O genro, Claudio Guedes, lembra que Horieta viveu o início das grandes conquistas das mulheres por direitos e não passou sem emoção pela vida. "Pelo contrário, enquanto pôde, a viveu de forma intensa, iluminada."
Horieta morreu em decorrência do Alzheimer, no dia 11 de fevereiro. Deixa dois filhos, quatro netos e três bisnetas.
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