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Descrição de chapéu Obituário Francisco Almeida Lins (1943 - 2024)

Mortes: Deixou o seminário para se tornar jornalista de visão crítica

Formado em filosofia, Chico Lins tinha vasto conhecimento cultural e político, e muita generosidade

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São Paulo

Caçula de quatro irmãos e filho de maçom, Francisco Almeida Lins foi preparado desde criança a seguir a vida religiosa.

Aos 13 anos, deixou Pacaembu, onde morava com a família no interior de São Paulo, para estudar em um seminário jesuíta de Nova Friburgo (RJ). De lá, onde viveu por diversos anos, saiu antes de se tornar padre, aprendeu a questionar, inclusive a igreja.

Chico Lins se formou em filosofia. De vasto conhecimento e cultura, e de boa escrita, enveredou ao jornalismo. Foi contratado no início dos anos 1970 pelo Estado de S. Paulo —iniciou como pesquisador no arquivo do jornal e exerceu a profissão em sólida carreira, também em outras redações.

Francisco Almeida Lins (1943-2024) - Leitor

Fez parte da assessoria de imprensa do governo de Orestes Quércia (1987 a 1991) e trabalhou com a antropóloga Ruth Cardoso (1930-2008), mulher do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB).

Militou na esquerda, mas sem nunca abrir mão de sua obstinada independência política.

"Ele largou o seminário porque já estava engajado na resistência à ditadura militar", afirma o jornalista Mauro Martins Bastos, sobre o viés político do amigo de cinco décadas.

Lins evitava falar sobre os três dias que permaneceu preso durante o regime militar. Ocultou até dos mais próximos que escondeu o sociólogo e ativista dos direitos políticos Betinho em seu apartamento.

"Ele não deixava ninguém ir à sua casa e só revelou o motivo depois da Anistia", lembra Bastos.

De doce trato, se preocupava com as pessoas, sem distinguir classe social. Antes de deixar o seminário, convenceu os padres de lá, que eram contrários à ideia, de transformar o local em abrigo para vítimas de uma enchente no Rio de Janeiro.

Depois de desistir da batina, teve três namoradas até ser indicado por uma conhecida a dar aulas de filosofia a uma amiga dela, estudante de pedagogia, que procurava um professor particular.

O papo filosófico com a aluna Thaís Helena virou casamento. Da união de 19 anos nasceram os filhos Pedro e Joana.

Apaixonado por livros, leu profundamente os sermões do português padre Antônio Vieira.

Lins tinha ouvido musical diverso. Da sua coleção com mais de 2.000 CDs, colocava para tocar de cantos gregorianos aos sambas de Clementina de Jesus.

"Não é todo mundo que consegue ser tão eclético", diz a filha caçula, que conta ter levado o pai para morar em Sant'Ana do Livramento (RS), por causa de uma religião espírita da qual ela participava. Lins foi embora dois anos depois, sozinho, outra vez com muitas discordâncias.

Mais recluso ultimamente, tinha dificuldades de respirar, por por causa dos problemas pulmonares herdados por anos de cigarros. Também estava triste com a guerra na Ucrânia e as mortes de mulheres e crianças na ofensiva israelense na Faixa de Gaza.

Francisco Almeida Lins morreu no dia 2 de maio, aos 81 anos, em São Paulo. Deixou os filhos Pedro, Joana e o britânico Matthew, pai de seus dois netos.

coluna.obituario@grupofolha.com.br

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