Siga a folha

Descrição de chapéu
Valdinei Ferreira

O inconfessável objetivo de Malafaia com a manifestação de 7 de setembro

Sua fixação com a deposição de Alexandre Moraes esconde a ambição de se tornar um aiatolá evangélico

Assinantes podem enviar 7 artigos por dia com acesso livre

ASSINE ou FAÇA LOGIN

Continue lendo com acesso ilimitado.
Aproveite esta oferta especial:

Oferta Exclusiva

6 meses por R$ 1,90/mês

SOMENTE ESSA SEMANA

ASSINE A FOLHA

Cancele quando quiser

Notícias no momento em que acontecem, newsletters exclusivas e mais de 200 colunas e blogs.
Apoie o jornalismo profissional.

Valdinei Ferreira

É sociólogo, pastor e professor da Faculdade de Teologia da Igreja Presbiteriana Independente (Fatipi) e pesquisador na área de espiritualidade e saúde mental

O pastor Silas Malafaia tinha 7 anos de idade quando o reverendo Martin Luther King Jr. ganhou o Prêmio Nobel da Paz em 1964. No ano anterior, Luther King havia reunido 250 mil pessoas no Memorial Lincoln, na Marcha por Empregos e Liberdade em Washington. Quantas pessoas Silas Malafaia reunirá na avenida Paulista saberemos neste sábado, 7 de setembro.

Embora seja absurda qualquer comparação entre o lendário pregador batista, de voz aveludada e cheia de poesia, e o assembleiano carioca, de voz aguda e palavrório coloquial, é fato que Malafaia, assim como fazia seu irmão do Norte, leva pessoas às ruas por uma causa que cruza fé e política.

Gostemos ou não de Malafaia, sejamos justos: ele é o único líder religioso que fez isso na história recente do Brasil. Friso: um líder religioso convocando, com seu CPF, pessoas para irem protestar na avenida Paulista é obra de um pentecostal carioca chamado Silas Malafaia.

O pastor Silas Malafaia em manifestação de apoio a Jair Bolsonaro na avenida Paulista; ele quer ser aquele que governa os que governam - Folhapress

Mas o que ele quer com a manifestação de sábado? Seus objetivos declarados são o impeachment e a prisão de Alexandre de Moraes, não necessariamente nessa ordem. A revelação, por esta Folha, sobre os procedimentos utilizados pelo ministro, como relator do inquérito das fake news e presidente do TSE, deu fôlego para a convocação da manifestação.

Os experimentos de Malafaia entre púlpito e palanque começaram com o apoio a Leonel Brizola em 1989, passaram pelos apoios a Lula em 2002 e Marina Silva em 2010, a qual ele renega para declarar apoio a José Serra. Desde então, a simbiose entre o púlpito e o palanque foi se aperfeiçoando em sua trajetória. Hoje, pregação e lacração política nas redes sociais se confundem na boca dele. Claro, tudo lastreado por eternos interesses terrenos.

Quando o pastor pisar no palco do carro de som na manifestação do dia 7 de setembro, já terá seu lugar assegurado na história política do Brasil. Não importa o resultado prático do evento. E digo que não importa porque o único que deverá ganhar com a união da direita no evento é o candidato Pablo Marçal.

Martin Luther King, em um de seus últimos sermões, diante das ameaças de morte que vinha sofrendo, disse: "Não importa o que me aconteça, eu estive no alto da montanha". Do alto do carro de som, Malafaia pode posar de mártir, gritando que podem prendê-lo, como tem dito inúmeras vezes.

Contudo, não é a prisão que tirará Malafaia de cena. É Marçal ou algum sucedâneo genérico dessa combinação turbinada entre religião, política e redes sociais que tomará o lugar tanto dele quanto de Bolsonaro.

O pregador batista tinha um sonho, o combate ao racismo institucional nos EUA. Já Malafaia tem uma ideia fixa: prender Alexandre de Moraes. A fixação com a deposição de Moraes esconde a ambição inconfessável do pastor: tornar-se um aiatolá evangélico, ou seja, aquele que governa os que governam.

Mas a avenida Paulista não vive só de Silas Malafaia e Jair Bolsonaro. Felizmente, o mundo evangélico é plural e, no dia 24 de agosto, cerca de 20 mil evangélicos convocados pela Igreja Adventista do Sétimo Dia protestaram na avenida contra o abuso sexual infantil.

Malafaia não estava lá. Ele bem que poderia ter usado seu poder para dar uma força aos adventistas. No entanto, a direita bolsonarista só fala em pedofilia para acusar a esquerda. É só retórica. Aliás, o Projeto de Lei 1904/24, conhecido como PL do Estuprador, é de autoria de Sóstenes Cavalcante, preposto de Malafaia.

Receba notícias da Folha

Cadastre-se e escolha quais newsletters gostaria de receber

Ativar newsletters

Relacionadas