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Na contramão dos vapes, jovens mantêm cigarro tradicional na mão por estética

Artistas e influenciadores digitais estimulam comportamento que é fator de risco para mais de 60 doenças

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Kalil de Oliveira
Florianópolis

Jovens relatam fumar cigarros por estética e alguns comportamentos e declarações de artistas, como Charlie xcx e Lana del Rey, podem influenciar o tabagismo, dizem especialistas.

O Governo Federal aumentou para R$ 2,25 o imposto sobre o maço –que permanecia a mesma alíquota de 2016, R$ 1,50 – em 1° de agosto. A medida foi tomada para desestimular a iniciação do consumo de jovens, explica o Inca (Instituto Nacional de Câncer) através de comunicado.

É difícil frear a iniciação ao consumo de nicotina por jovens, explica o pneumologista e ativista antitabagismo, Alexandre Milagres. "As meninas estão começando a fumar em maior quantidade que os meninos, em parte, pela ideia de que o cigarro emagrece. Essa tendência, que começou há 15 anos, não se reverteu", conta.

Jovem fumando um cigarro em um espaço público - Adobe Stock

Esses dados podem estar relacionados à influência de personalidades digitais e artistas, afirma a fundadora do Instituto Delete e professora do Instituto de Psiquiatria da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), Anna Lucia King. "As redes sociais [propagam] um modelo de comportamento que influenciam todos os jovens, principalmente os que têm perfil inseguro e necessidade de autoafirmação", diz.

O país conduziu uma força tarefa que reduziu o consumo de nicotina. A publicidade de cigarros, por exemplo, foi proibida. Houve uma conscientização sobre os malefícios do tabagismo e uma geração cresceu educada, argumenta King. Mas a diferença está, também, em como os jovens consomem informações. "Eles não veem muita televisão, mas sim séries e redes sociais", explica a pesquisadora. Com as redes sociais, talvez dessa forma as propagandas de cigarro estejam voltando, mesmo que de forma simbólica, reflete.

"É uma propaganda subliminar. Se ela é um modelo de pessoa, tudo que fizer –desde o cabelo até a vestimenta e o comportamento– com certeza influencia os jovens. Todo mundo quer seguir aquilo", diz.

Anna Vilete, 21, diz que foi influenciada pela cantora e modelo Sky Ferreira e pela tendência "model off-duty", que despreza peças muito elaboradas. "Eu via a Naomi Campbell [fumando] e achava isso muito legal, com um certo glamour. Você vê meninas mais velhas fumantes em séries, como Sex And The City e pensa: 'nossa, quero fazer isso também porque é muito legal'".

O cigarro também ajuda as pessoas a se tornarem mais atraentes, acredita Vilete. "Deixa ela mais legal. Às vezes você olha para alguém e ele é meio sem graça, desinteressante. Não sei explicar, mas se ele estiver fumando, sente que tem um apelo sexual, uma coisa diferente, um certo enigma", diz.

No entanto, o pneumologista alerta que mais de 60 doenças e mais de 19 cânceres podem ser provocados pelo fumo. "O tabagismo é o maior problema de saúde pública do planeta. Não existe nada comparável ao tabagismo".

"Não dá para esperar racionalidade de ídolos e artistas", diz Milagres. "Tem que denunciar e mostrar o que os influenciadores estão fazendo. Eles merecem uma pressão em cima".

O pesquisador entende que a dificuldade de assimilar os riscos do cigarro é também porque há uma distância entre os mais jovens e a ocorrência das doenças crônicas. "Ele acha que não vai acontecer com ele, que o câncer ou o infarto só vai chegar só quando ele tiver 80 anos de idade".

Mas nem tudo está perdido, afirma Milagres. "Nós temos influenciadores no sentido oposto". É o caso de Gustavo Foganoli que expôs o vício em vapes e criou a campanha #SemNicotina. Milagres defende que os próprios jovens devem ser protagonistas da luta contra a nicotina.

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