Amazonense cria cápsula de proteção para frear contágio do coronavírus em hospitais
Cápsula acrílica pode bloquear partículas virais no ar e proteger os profissionais da saúde
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A disseminação do novo coronavírus nos hospitais em todo o mundo traz um desafio aos profissionais de saúde, que tentam equilibrar o atendimento aos pacientes que necessitam de ventilação com os cuidados para que não contraiam o vírus e adoeçam.
Um dos problemas é a liberação de aerossóis que podem carregam o vírus no ar durante a intubação de um paciente com síndrome respiratória aguda grave. Os EPIs (Equipamentos de Proteção Individual) ajudam na proteção dos médicos e enfermeiros, mas estão em falta em grande parte do país, e o Ministério da Saúde tem enfrentado dificuldades na aquisição de mais material.
Diante desse quadro, um empresário mudou a produção da sua gráfica, no município de Parintins (AM), a 369 km de Manaus, para a fabricação de cápsulas de acrílico protetoras para os pacientes de Covid-19.
Fram Canto teve a ideia a partir de um equipamento já conhecido dos médicos: as cápsulas do tipo “hood”, equipamentos de proteção para recém-nascidos que necessitam de terapia de oxigenação.
A cabine criada permite circulação do oxigênio no interior. Possui também um filtro para evitar saída das micropartículas para o meio externo. Dentro dela, os pacientes podem seguir usando os ventiladores auxiliares não invasivos.
Na falta de quartos isolados, pacientes em leitos de UTI podem dividir o mesmo quarto sem que ocorra a transmissão do vírus para pessoas saudáveis.
Além da passagem para o ventilador, duas aberturas na parte de trás servem para o acesso das mãos dos profissionais de saúde. Dobradiças na lateral e na região superior da cápsula possibilitam retirada imediata da cabine em caso de intervenção médica emergencial.
O protótipo foi apresentado aos médicos do Hospital Regional Jofre Matos Cohen, que atende pelo SUS.
Estudos já demonstraram uma diminuição significativa de infecções pulmonares e do tempo de recuperação de pacientes que recebem terapias de ventilação não invasivas em relação aos que são submetidos à entubação endotraqueal.
Um modelo mais fechado da cabine, que parece um capacete de astronauta, foi desenvolvido e usado por médicos na Itália. Nos Estados Unidos, o Centro Médico da Universidade de Chicago estuda há pelo menos quatro anos o uso de capacetes em pacientes com doenças respiratórias. A diferença é que o capacete ao redor do pescoço é de uso individual e pode provocar escoriações e irritações na pele, além de ser mais claustrofóbico. Já o protótipo produzido por Canto é posicionado sobre o leito do paciente.
As cabines de acrílico ainda não têm sua eficácia comprovada contra a transmissão do novo coronavírus, mas, segundo especialistas ouvidos pela Folha, o uso teoricamente não traz nenhuma restrição, uma vez que capas plásticas já são usadas durante a intubação de pacientes em hospitais.
Segundo Andre Nathan Costa, pneumologista do Hospital Sírio-Libanês e membro da Sociedade Brasileira de Pneumologia, a ideia parece ser válida, mas seria necessário um estudo médico para comprovar sua ação. Há dúvidas também quanto a colocar um paciente em uma caixa plástica por tempo indeterminado.
“No caso dos neonatos, o ‘hood’ o protege do meio externo, tanto que o acesso para o médico é feito com uma luva, para não ter contato nenhum com o ambiente de fora”, explica. No caso dos pacientes com Covid-19, quem precisa de proteção para não adoecerem são os profissionais.
Costa afirma que uma alternativa mais barata e simples seria distribuir aos profissionais as "face shields", máscaras protetoras em material mais flexível que combinam uma proteção plástica que recobre o rosto e uma fita elástica, que se prende à cabeça. Canto também as produz em sua gráfica.
Segundo o especialista, gotículas de pacientes infectados ficam presas no equipamento protetor. O mesmo princípio se aplica à cabine.
Canto afirma que está trabalhando com médicos e pesquisadores da Universidade Federal do Amazonas (Ufam) e do Inpi (Instituto Nacional de Propriedade Intelectual) para patentear o produto, que será doado para o sistema de saúde pública. A certificação da patente virá juntamente com a publicação de estudos científicos que comprovem sua eficácia.
O empresário disse ainda que a Secretaria de Saúde do Estado do Amazonas (Susam) entrou em contato em busca de uma parceria para produção em larga escala da cabine. Até a publicação deste texto, a Susam não havia ainda firmado a parceria, mas disse que a Prefeitura de Manaus já busca acelerar o processo de fabricação do material para distribuir aos hospitais da capital.
Em Manaus, a rede de hospitais particulares Samel desenvolveu um produto similar, chamado “cápsula Vanessa”, em homenagem a uma paciente que foi atendida no Hospital Samel e recebeu intubação endotraqueal precoce, segundo médicos da rede.
Feita a partir de tubos de PVC e vinil plástico, a cápsula possui alças laterais para retirada e zíperes para acesso ao paciente. Posicionada na região torácica do paciente, elas são mais leves e transparentes, mas também mais frágeis.
Produzidas em parceria com o Instituto Transire, no distrito industrial de Manaus, as cápsulas da Samel possuem ainda filtro do tipo HMEF (da sigla em inglês, filtro de controle de temperatura e umidade) para controle da temperatura e umidade do oxigênio.
O filtro, que tem ação antibacteriana, produz pressão negativa no interior da cápsula o que, segundo os especialistas, impede que o “ar contaminado” saia pelas frestas da cápsula que ficam ao redor do corpo.
O presidente do grupo Samel disse à Folha que usa as cápsulas em seus hospitais há pelo menos 20 dias e que até o momento não teve nenhum profissional de saúde contaminado.
Erramos: o texto foi alterado
Um versão anterior deste texto afirmou que um pedido de patente da cápsula foi enviado ao Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), mas o correto é Inpi (Instituto Nacional de Propriedade Intelectual). O erro foi corrigido.
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