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Descrição de chapéu The New York Times

Biles brilha enquanto ginástica dos EUA sofre ao lidar com problemas

Ginasta venceu competição nacional e executou triplo-duplo no final de semana

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Danielle Allentuck
Kansas City | The New York Times

​​Simone Biles completou mais um desmonte, nas barras assimétricas, e selou o título geral de ginástica que esteve em suas mãos por todo o final de semana. Então ela correu pelo tablado, de língua de fora e sacudindo a cabeça, com um grande sorriso no rosto.​​

"Hoje fiquei bem mais satisfeita", disse Biles depois de vencer seu sexto título no campeonato americano de ginástica, igualando um recorde. "Sinto que não fui tão confiante nas barras neste ano quanto fui no ano passado. Fiquei contente por enfim fazer uma apresentação tão boa quanto posso."

A exuberância e a alegria de Biles, depois de sua vitória em Kansas City, contrastam com os sentimentos que ela exibiu na quarta-feira, cinco dias antes do torneio. Então, Biles chorou ao discutir a situação atual da USA Gymnastics, a federação de seu esporte nos Estados Unidos.

Biles disse que era difícil continuar a representar uma organização "depois que ela nos falhou tantas vezes". "Como é que podemos confiar neles?", ela questionou.

Simone Biles executa manobra inédita na prova de solo - Denny Medley - 11.ago.19/USA Today Sports

A um ano da Olimpíada de Tóquio, o campeonato de ginástica dos Estados Unidos foi o foro perfeito para avaliar os dois eixos do esporte no país: a excelência dourada de Biles e as questões continuadas sobre a federação.

Biles fez sua parte. Suas apresentações vitoriosas incluíram duas manobras jamais executadas antes por mulheres em uma competição de ginástica: um triplo-duplo (duplo mortal com três piruetas) no solo e um desmonte duplo-duplo (dois mortais com duas piruetas), na trave. Ela fechou 4,95 pontos adiante da concorrente mais próxima, Sunisa Lee — uma vantagem que, no placar da ginástica, representa uma goleada.

Já a USA Gymnastics continua em tumulto, substituindo líderes ininterruptamente e ainda lutando por emergir de sob a sombra ameaçadora do escândalo de Lawrence Nassar. Nassar, que era médico da equipe de ginástica dos Estados Unidos e da equipe de ginástica da Universidade Estadual do Michigan, foi acusado de molestar mais de 300 atletas, sob o pretexto de lhes ministrar tratamentos médicos. Biles revelou mais de um ano atrás que estava entre as vítimas de Nassar.

A atleta disse que continuava a não confiar na USA Gymnastics como protetora dos atletas e que era difícil para ela competir por uma organização que a feriu tantas vezes.

"Eu tento bloquear a sensação", disse Biles, quando questionada sobre como controla as emoções ao competir. "Estou aqui para fazer meu trabalho".

A federação já está em seu terceiro presidente-executivo em dois anos. Li Li Leung, que foi ginasta na infância e executiva da NBA e em fevereiro se tornou a mais recente encarregada de liderar a problemática organização, disse que sua esperança era levar estabilidade à USA Gymnastics.

"Reconheço que ainda temos muito trabalho a fazer", disse Leung, na semana passada, antes da abertura do campeonato. "É uma maratona, não uma prova de velocidade. E estou no começo dessa maratona."

A USA Gymnastics pediu concordata em dezembro e está em mediação para resolver alguns dos processos judiciais que enfrenta devido aos anos de abusos sexuais contra ginastas por parte de Nassar. Ainda que Leung tenha declarado que não está autorizada a revelar detalhes por conta dos litígios em curso, ela disse que a decisão de pedir concordata foi tomada para que a organização possa resolver as reivindicações das vítimas de Nassar "de maneira eficiente e em prazo curto".

Nenhuma vítima foi indenizada pela USA Gymnastics até agora e não existe cronograma para que isso aconteça.

A organização no momento não tem patrocinadores, com exceção da GK, que fabrica roupas de ginástica, e Leung disse que nenhuma parceria nova seria buscada antes de colocar a casa em ordem.

Em novembro, o Comitê Olímpico e Paralímpico dos Estados Unidos decidiu cancelar a certificação da USA Gymnastics, o que daria ao comitê controle pleno da federação. Leung disse que há quatro coisas que a USA Gymnastics necessita melhorar para deter esse processo: estabilidade na liderança, estabilidade financeira, segurança dos atletas e criar confiança junto à comunidade.

Leung fez questão de estar presente e acessível, aparentemente fazendo sua parte para contribuir quanto à última dessas necessidades. Ela estava presente no local de competição, abraçando os atletas e torcendo durante o final de semana, e disse ter conversado com mais de 400 atletas, treinadores e donos de clubes de ginástica, em seus cinco meses no posto.

Outro ponto positivo, disse Leung, foi o público recorde do campeonato. Uma multidão de cerca de 12 mil pessoas assistiu à disputa feminina no domingo. "Estamos começando a reconstruir a confiança em nossa comunidade, em termos de participação em nossos eventos", disse Leung.

A explicação mais provável é que o público tenha vindo primordialmente para ver Biles. A plateia do torneio feminino foi quase duas vezes maior que a do masculino. Além de Biles, os espectadores puderam ver a próxima geração de ginastas dando seus primeiros passos para a qualificação olímpica. Biles foi a única integrante da equipe olímpica de 2016 que concorreu em Kansas City.

​​Sunisa Lee, 16, deslumbrou  com apresentações elegantes durante o final de semana. Abaixo dela chegaram Grace McCallum, 16, e Morgan Hurd, 18. Embora não seja uma concorrente de destaque no torneio combinado, Jade Carey, 19, mostrou seu talento nos exercícios de solo e no salto sobre a mesa, terminando em segundo, abaixo apenas de Biles, em ambos. Riley McCusker, bronze no campeonato de ginástica do ano passado, deixou a competição deste ano por doença.

Já Biles parece estar em forma ainda melhor do que em 2016, vencendo a medalha de ouro geral embora suas tendências perfeccionistas tenham ficado à mostra mesmo na vitória. Biles disse que sentia ainda ter trabalho a fazer. Ela ficou irritada com seu desempenho no primeiro dia de competição, sexta-feira, quando não conseguiu controlar a conclusão do triplo-duplo e tocou o piso com as duas mãos no final da manobra. Ela se recuperou no domingo, completando a manobra com apenas um ligeiro salto para trás.

"Fiquei feliz por completar", disse Biles. "Depois da primeira noite, perdi a confiança. Estava preocupada, ao começar hoje."

O próximo passo no caminho para Tóquio é o Campeonato Mundial, em outubro, em Stuttgart, Alemanha. A equipe será selecionada depois de um treinamento em setembro. A competição que se seguirá ao treino será aberta ao público, em mais uma mudança, na busca da USA Gymnastics por transparência.

Tradução de Paulo Migliacci

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