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Descrição de chapéu Campeonato Brasileiro

Com caos político, Cruzeiro 'reza' e já aponta culpados para queda

Até com vitórias nas duas partidas, clube mineiro pode ser rebaixado

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Belo Horizonte

Torcedores revoltados do Cruzeiro usaram em pichações duas palavras que uma geração talvez só conhecesse pelo humorístico Hermes e Renato da MTV. Elas apareceram no muro da Toca da Raposa 2 e na sede administrativa, no fim de novembro. “Sevandijas”. “Diretoria quilingue”.

A primeira, sevandijas, significa parasitas, vermes e veio acompanhada de frases como “some do Cruzeiro” e "a farra acabou". A segunda, quilingue, se refere a cultura de corrupção. Na sexta-feira (29), um vídeo nas redes sociais mostrou o tom de revolta engrossando. Torcedores abordaram o presidente Wagner Pires de Sá e ameaçaram de morte jogadores. 

“Você já ouviu falar, no futebol brasileiro, que teve morte de jogador porque o time foi rebaixado? Nunca, né? Vai acabar acontecendo isso. Vocês tá (sic) ligado”, diz um deles. Wagner responde: “Tem umas coisas que a gente não entende, os caras jogavam bola. Até o início do ano, eram o melhor time, não sei o que, de repente pararam de jogar bola”.

Torcedores do Cruzeiro durante partida contra o Avaí, pelo Campeonato Brasileiro - Washington Alves - 18.nov.2019/REUTERS

Wagner assumiu a presidência do clube em 2018 e viu o Cruzeiro ganhar a sexta Copa do Brasil. Mas a lista de problemas de 2019 inclui conflitos dentro do elenco, jogadores afastados, salários atrasados, investigação policial mirando a diretoria e a troca de três técnicos em quatro meses.

Como presidente do conselho deliberativo e com o capital político de ex-presidente, Zezé Perrella se tornou um dos críticos ferrenhos à gestão de Wagner e a seu então gestor de futebol Itair Machado, apontado como uma das figuras centrais da crise.

À Folha, no começo de outubro, Perrella disse que esperava que as investigações policiais andassem para que a diretoria fosse retirada na Justiça. Logo depois, Machado foi demitido e ele assumiu o cargo na gestão de futebol.

Em entrevista ao site Globo Esporte, ele afirmou que saída de jogadores à noite não seriam toleradas. Nesta segunda-feira (2), Perrella apareceu no perfil oficial do clube no Twitter anunciando o afastamento do meia Thiago Neves, um dos mais criticados pela torcida, depois que o atleta foi visto em um show, enquanto trata um edema na coxa esquerda.

“Vamos torcer para que ele consiga arrumar um clube, porque vestir a camisa do Cruzeiro, pelo menos enquanto eu aqui estiver, ele não veste mais”, diz no vídeo de 58 segundos.

No mesmo dia, depois da derrota por 1 a 0 para o Vasco, Perrella também direcionou críticas ao ex-técnico Mano Menezes, por ter priorizado a Copa do Brasil —Cruzeiro foi eliminado nas semifinais pelo Inter— ao invés do campeonato brasileiro.

“Se o Cruzeiro não ficar na primeira, todo mundo tem responsabilidade, até eu tenho a minha. Mas vamos olhar lá atrás, no planejamento, a culpa da diretoria passada, que concordou com isso. O Mano é um cara sensacional, mas avaliou mal, confiou muito”, afirmou a jornalistas. “Agora é rezar para não cair”.

Na última sexta, o clube chamou o terceiro técnico desde a queda de Mano, em agosto: Adilson Batista. O anúncio foi feito dois meses depois da estreia de Abel Braga, que substituiu Rogério Ceni, na sua passagem rápida e tensa pela Toca da Raposa.

A estreia de Adilson foi na derrota nesta segunda. A dois jogos do final do campeonato, o Cruzeiro tem hoje 90,6% de chances de ser rebaixado, segundo o projeto “Probabilidades no futebol”, do departamento de matemática da UFMG.

O time tem 36 pontos, dois a menos que o Ceará, que está logo acima da zona do rebaixamento. O time teve sete vitórias em 36 jogos. É a pior campanha do Cruzeiro desde que o projeto da UFMG estreou em 2005, diz o professor de matemática, Gilcione Nonato Costa, superando a luta para escapar da Série B em 2011.

Com Grêmio e Palmeiras pela frente, a situação agora depende mais dos resultados do Ceará do que do próprio Cruzeiro, na avaliação do professor. O jogo contra o tricolor gaúcho será em Porto Alegre nesta quinta (5).

“O Ceará tem que fazer no máximo três pontos e o grande problema do Cruzeiro é que ele não vence. Eu diria que está respirando por aparelhos”, diz ele. O time perdeu nas últimas três rodadas. “É possível que aconteça [de ficar na série A], mas a situação está ficando irreversível”.

Em outras palavras, ainda que seja matematicamente possível que o Cruzeiro se mantenha no grupo de times brasileiros que nunca caíram para a Série B, parece cada vez mais improvável. Os demais clubes que nunca foram rebaixados são Flamengo, São Paulo e Santos. A Chapecoense disputou pela primeira vez a Série A em 2014 e já está rebaixada este ano com Avaí e CSA.

“É uma crise que transcende a história do clube. Se o rebaixamento se concretizar, não é surpresa para ninguém”, diz Costa. 

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