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Atletas de Cuba celebram volta do boxe profissional na ilha após 60 anos

Revolução de Fidel Castro aboliu a prática de esportes profissionais em 1962

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Havana | AFP

Uma atmosfera de entusiasmo predomina em La Finca, a catedral do boxe em Cuba na qual "Los Domadores" (os domadores, em português) treinam intensamente para a estreia profissional. "Era o que estávamos esperando há muito tempo", diz o atleta Julio César La Cruz, 32.

Autoridades cubanas autorizaram nesta semana a participação de pugilistas cubanos no circuito profissional pela primeira vez desde 1962, sob a tutela da federação local.

"[O anúncio] Veio para nos animar e dar satisfação à família do boxe", disse à agência de notícias AFP Rolando Acebal, 64. Ele lidera há 11 anos o carro-chefe do esporte cubano, que soma 80 títulos mundiais e 41 olímpicos.

O bicampeão olimpíco de boxe Julio César La Cruz treina em Havana - Yamil Lage -7.abr.2022/AFP

Para La Cruz, bicampeão olímpico e cinco vezes campeão mundial, a notícia veio na hora certa. "Vai ser algo lindo, especial e histórico", diz, banhado em suor, após quase três horas de sparring (termo utilizado para se referir ao parceiro de um lutador).

O atleta Andy Cruz, 26, que conquistou seu primeiro título olímpico nos Jogos de Tóquio-2020, também está feliz porque, segundo ele, agora poderá enfrentar os melhores boxeadores do mundo em sua categoria.

Mas há outra razão convincente para comemorar. De acordo com a Federação Cubana de Boxe, os lutadores receberão 80% da renda obtida em cada luta.

"Esse bônus econômico vai ser muito útil, já que muitos de nós temos família", diz o bicampeão olímpico Arlen López, pai de dois filhos, enquanto o país enfrenta a pior crise econômica em quase 30 anos devido ao impacto da pandemia e reforço do embargo imposto pelos Estados Unidos.

O esporte profissional foi abolido em Cuba pela revolução de Fidel Castro, que optou pelo desenvolvimento do amadorismo e trouxe a pequena ilha para a elite mundial em algumas modalidades. Em 2013, iniciou-se um retorno tímido em competições profissionais no beisebol, vôlei e basquete em busca de novas formas de financiamento.

Após cinco décadas de prática não profissional, a equipe local conseguiu se adaptar ao boxe semiprofissional na WSB (Série Mundial de Boxe), na qual estreou em 2014 com a franquia "Los Domadores" e venceu três das cinco edições em que disputou, incluindo a última, realizada em 2018.

Acebal acredita que não haverá problemas com a adaptação ao boxe profissional que, além de ter um número maior de rounds, se caracteriza por ser mais ofensivo e por golpes mais contundentes.

"Já estamos em preparação e essas questões estão treinadas", diz Acebal enquanto orienta o treinamento que, segundo López, tem o dobro da intensidade do que era habitual.

Acebal não perde de vista os cinco pugilistas (La Cruz, Andy, López, Yoenlis Feliciano e Lázaro Álvarez) que participarão da estreia profissional de Cuba em maio, no México, segundo contrato assinado com a empresa mexicana Golden Ring Promotions.

Após o anúncio das autoridades cubanas, a alegria pela participação no circuito profissional ultrapassou as fronteiras da ilha.

"Grande notícia para o boxe profissional" porque Cuba é uma "fábrica de campeões", disse o presidente da Federação Espanhola de Boxe, Felipe Martínez. Ele acompanha um grupo de lutadores de seu país que treina em La Finca visando as Olimpíadas de Paris, em 2024.

O boxeador cubano Andy Cruz durante treinamento em Havana - Yamil Lage - 7.abr.2022/AFP

Luis Mariano González, técnico cubano da equipe que a França está montando para esses Jogos e que também treina na ilha considerou que a medida "elevará ainda mais o nível do boxe cubano".

A WBA (Associação Mundial de Boxe), uma das quatro entidades mais importantes do boxe profissional, abriu "suas portas" aos cubanos depois de saber do acordo com a Golden Rings Promotions.

"Parece que é uma nova oportunidade para os boxeadores cubanos que vivem em seu país", disse o presidente, Gilberto Jesús Mendoza, segundo site da associação que já foi lar de grandes lutadores cubanos que deixaram a ilha para tentar a sorte no boxe profissional, entre eles Yuriorkis Gamboa, Guillermo Rigondeaux e Luis Ortiz.

Acebal acredita que a abertura ao boxe profissional em Cuba pode deter esse êxodo, que registrou seu mais recente episódio em março, quando os boxeadores Kevin Brown e Herich Ruiz deixaram a delegação cubana que participava do Campeonato Pan-Americano no Equador.

"Qualquer um que seja um pouco esperto não terá que sair", diz ele.

A pergunta que os fãs do esporte se fazem agora é se o embargo dos Estados Unidos, em vigor desde 1962, permitirá que os campeões cubanos participem das principais competições de boxe profissional, que costumam ser organizados naquele país.

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