Edgard Alves

Jornalista, participou da cobertura de sete Olimpíadas e quatro Pan-Americanos.

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Descrição de chapéu Tóquio 2020

Favorita aos pódios do boxe nas Olimpíadas, por que Cuba veta mulheres na modalidade?

Comitê Olímpico Internacional incentiva, mas país caribenho não quer torneios femininos

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O boxe já provocou muito debate no movimento olímpico internacional, com opiniões bastante divididas sobre os riscos à saúde dos pugilistas. As divergências acabaram em pizza, e a modalidade foi mantida nas Olimpíadas, com histórico iniciado em Londres-1904.

Havia uma condição peculiar nos Jogos Olímpicos: o pugilismo era disputado apenas por homens. As mulheres só foram incluídas no evento em Londres, em 2012. Aliás, tornou-se o último dos esportes a promover torneios olímpicos nos dois gêneros.

O boxeador cubano Julio Cesar La Cruz comemora após vencer luta contra espanhol nos Jogos Olímpicos de Tóquio-2020
O boxeador cubano Julio Cesar La Cruz comemora após vencer luta contra espanhol nos Jogos Olímpicos de Tóquio-2020 - Buda Mendes/Reuters

Como nos Jogos Olímpicos de Tóquio as medalhas do boxe serão definidas nesta semana, muitas pessoas podem levantar uma dúvida, por sinal muito pertinente: por que Cuba, a minúscula ilha caribenha, costumeira papa-pódios da modalidade, tem apenas representação masculina nas Olimpíadas?

Nada tão simples de explicar. Mais fácil é rebater o não profissionalismo do boxe na ilha, outra das barreiras, com a justificativa de ser aquele um país socialista, no qual o capitalismo deve ser combatido.

Num país em que o comportamento social aponta para a igualdade de gênero, de direitos trabalhistas e vários outros, muitas versões despontaram ao longo da última década, todas estranhas, para esclarecer a ausência das mulheres no boxe cubano.

A alegação aparentemente mais forte teria como causa a violência da modalidade e o risco à saúde. Estudos indicariam não ser o pugilismo indicado para mulheres.

Com tal conclusão específica, no entanto, nunca estudo algum foi publicado ou divulgado pela cartolagem da corrente contrária ao boxe no mundo olímpico. Há também os defensores convictos da tese que as mulheres não foram feitas para receber socos ou sofrer ferimentos no rosto. Melhor parar por aqui.

Na verdade, o boxe é um jogo de bate ou de apanha ou as duas coisas. Então, não se trata de risco para apenas um gênero. A proposta é acertar o maior número de golpes com os punhos no rival e também, se possível, nocauteá-lo. Os contendores usam luvas de couro, almofadadas, para proteção das mãos do atacante da vez e para redução de danos no defensor.

O mais destacado treinador cubano de boxe, Alcides Sagarra, sabedor de eventos clandestinos na ilha, discordou em entrevista do veto aos torneios oficiais femininos no país. Cuba apoia, por exemplo, a luta livre para mulheres. O treinador refutou ainda que a posição negacionista teria partido de esposa de político influente e lembrou que mulher vai à guerra.

Os supostos riscos atribuídos à violência estão abertos às pesquisas científicas. Transportando o debate para a questão de gênero, os comitês olímpicos Internacional e do Brasil concentram esforços na busca de um ambiente inclusivo, de crescimento feminino nos esportes.

Em Tóquio, as atletas brasileiras estão sendo incentivadas a responder a um questionário sobre o tema. Nas comissões técnicas do time nacional no Japão, elas são 10% dos comandos técnicos e 20% das chefias de equipe.

O Brasil participa dos Jogos com 46,8% de mulheres na representação. No universo das delegações concorrentes no Japão, a porcentagem feminina é 48,8%.

Em Paris-2024, a igualdade entre os gêneros é a meta do COI. Cuba alterou muitos aspectos das suas orientações revolucionárias nas últimas décadas, com acertos e erros. Abrir os ringues para as mulheres parece um caminho sem volta.

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