Siga a folha

Descrição de chapéu paralimpíadas badminton

Daniele, a menina que não gostava de esportes, abraçou o parabadminton e sonha

Campeã sul-americana foi carregada pela mãe para entrar na modalidade que não queria

Assinantes podem enviar 5 artigos por dia com acesso livre

ASSINE ou FAÇA LOGIN

Continue lendo com acesso ilimitado.
Aproveite esta oferta especial:

Oferta Exclusiva

6 meses por R$ 1,90/mês

SOMENTE ESSA SEMANA

ASSINE A FOLHA

Cancele quando quiser

Notícias no momento em que acontecem, newsletters exclusivas e mais de 200 colunas e blogs.
Apoie o jornalismo profissional.

São Paulo

Assim que tocou na raquete pela primeira vez, Daniele Souza, 29, pensou: "Cara, este é o esporte para mim. É isso o que eu quero".

Ela só não desejava dizer isso a ninguém. Principalmente à mãe, Tereza. Significaria ter de dar o braço a torcer e reconhecer estar errada. Levou tempo para admitir isso.

Daniele Souza, atleta da seleção brasileira de parabadminton - @danieletsouza no Instagram

Um dos principais nomes do parabadminton brasileiro, Daniele Souza detestava esportes. Não passava pela sua cabeça praticar nenhuma modalidade. Confusa, irritadiça e frustrada, ela ainda tentava, em 2012, aos 19 anos, adaptar-se à vida de cadeirante. Era uma luta.

"Eu terminei o ensino médio em 2010. Na minha cabeça, não havia mais nada o que fazer. Minha vida tinha acabado. Estava tentando lidar com tudo o que havia acontecido comigo nos anos anteriores."

Daniele teve infecção hospitalar no nascimento. Passou toda a infância e adolescência em tratamentos médicos no Distrito Federal, no Hospital Sarah Kubitschek. Aos 11 anos, em 2004, começou a ter dificuldades para caminhar. Uma tomografia constatou que a infecção estava alojada em sua coluna.

Passou por três cirurgias para tentar corrigir o problema, sem sucesso. Meses depois, parou de andar.
Ela se tornou dependente da mãe ou de outros familiares para tudo. Por isso sentiu que não tinha nenhum futuro. Isso durou até 2012, quando Tereza chegou em casa e, sem perguntar se a filha queria ou não, avisou que a inscrevera no Centro Olímpico de Samambaia, em Brasília.

"Eu não vou. Não gosto de esporte."

"Quem é que te carrega para todo canto?"

"A senhora."

"Então, está resolvido. Você vai."

Daniele foi. No início, tentou o tênis adaptado. Não achou tão ruim quanto pensava, mas não gostava de ficar debaixo do sol. Ouviu a sugestão do parabadminton, disputado em ginásio, ambiente fechado.

Na primeira vez em que praticou a modalidade, apaixonou-se. Até hoje não sabe explicar o motivo, mas começou a treinar tanto que chamou a atenção. Era apenas um passatempo para ela, mas os técnicos viram que poderiam ser mais. Em 2013, sem ser consultada, foi inscrita no Campeonato Brasiliense.

Mais uma vez, não queria ir. Foi levada a participar. Ou como diria a própria Daniele, "carregada".

"Nessa competição teve um sorteio, e eu era a única mulher, então jogaria contra os meninos. Só isso já me dava receio. Nesse sorteio, eu caí para jogar contra o Rômulo Soares, um atleta top da modalidade. Na hora falei: 'Vocês estão doidos. Não vou jogar, não’."

Mas jogou e foi tão abraçada pelos outros atletas que se sentiu em casa. Voltou para casa com quatro medalhas e uma vontade inabalável de continuar. O parabadminton, como hobby, estava no passado. Assim como a Daniele que não gostava de esportes.

No mês passado, ela conquistou o International Brasil de parabadminton, disputado no Centro de Treinamento Paralímpico, em São Paulo. Foi campeã sul-americana em 2021.

Sua prioridade neste ano é o Pan-Americano da categoria. Em 2023, haverá o Parapan-Americano, em Santiago, no Chile. É o caminho natural para o objetivo máximo: a vaga nas Paralimpíadas de Paris, em 2024.

"O sonho de todo atleta é estar nas Paralimpíadas. Mas, para chegar ali, é preciso treino pesado, um planejamento muito específico. Eu preciso de treino mais forte para isso. Tem de tomar café pensando em peteca e jantar pensando em peteca, o dia todo. Mas a gente pode alcançar", almeja.

Ela atualmente treina de terça a sexta, duas horas por dia. Quer aumentar a carga.

"O parabadminton mudou muito a minha vida. Antes, eu era dependente de outras pessoas. Para sair, precisava que minha mãe fosse comigo. Hoje eu saio sozinha, viajo sozinha. A Daniele de antes, a de 2012, nem estaria aqui conversando com você. De jeito nenhum. Ela era muito tímida. De vez em quando, passa um filme na cabeça de tudo o que aconteceu", reconhece.

E, como mãe é mãe, dona Tereza, de vez em quando, faz questão de lembrá-la disso com a frase:

"Tá vendo? Se não fosse eu..."

Receba notícias da Folha

Cadastre-se e escolha quais newsletters gostaria de receber

Ativar newsletters

Relacionadas