Coreia do Norte chega à final das duplas mistas no tênis de mesa envolta em mistério
Fora dos principais torneios do circuito, atletas do país asiático são difíceis de serem estudados e por vezes surpreendem
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De quatro em quatro anos, os norte-coreanos aparecem fora da Coreia do Norte —e surpreendem. Em Paris, aconteceu de novo, e Ri Jong Sik e Kim Kum Yong chegaram à final das duplas mistas no tênis de mesa.
Alguém esperava? Fora Kim Jong-un, pouquíssimos, e era difícil mesmo prever algo assim. Fora de quase todas as competições do WTT, os mesa tenistas de uma das ditaduras mais fechadas do mundo, alvo de várias sanções internacionais devido ao seu poderoso programa nuclear, passam despercebidos por quem acompanha o circuito regular. Assim, saber em que nível esses atletas se encontram é quase impossível.
Os adversários, claro, também enfrentam esse problema. Como estudar rivais sobre os quais se sabe tão pouco? Como se preparar contra jogadores que não costumam enfrentar? Até a participação em mundiais por equipes é irregular, o que faz do mapeamento de pontos fortes e fracos dos norte-coreanos algo difícil.
Soma-se a esse cenário o fato de que a Coreia do Norte é de uma região bem forte na modalidade. Além da China, que há décadas domina as grandes competições, mesa tenistas de Coreia do Sul, Japão, Taiwan e Hong Kong costumam figurar no topo dos rankings mundiais, refletindo a tradição asiática no esporte.
Nesta terça-feira (30), a Coreia do Norte conquistará mais uma medalha olímpica no tênis de mesa, resta saber se de ouro ou prata. Até agora, o país reúne quatro, todas de atletas mulheres: em Barcelona-1992, Li Bun-hui ganhou dois bronzes, um no simples e outro nas duplas, ao lado de Yu Sun-bok. Em Atenas-2004, a prata veio com Kim Hyang Mi no individual, e na Rio-2016 Kim Song I ficou na terceira colocação.
Agora, será um pouco diferente, porque Ri Jong Sik será o primeiro mesa tenista homem da Coreia do Norte a conquistar uma medalha em Jogos. Ele e Kim Kum Yong chocaram o público na capital francesa logo de cara, ao derrotarem uma das duplas favoritas, os japoneses Tomokazu Harimoto e Hina Hayata, cabeças de chave número 2 nas Olimpíadas —difícil imaginar que o duo nipônico não era o preferido em sites de bets.
Para o ouro, a tarefa é mais complicada. Ri e Kim enfrentam os chineses Wang Chuqin, número 1 do ranking individual masculino, com aproveitamento de 93% nesta temporada, e Sun Tingsha, número 1 do ranking individual feminino, com aproveitamento de 91%. Juntos, adivinhem, eles são a dupla mista número 1.
O tênis de mesa, no entanto, reserva surpresas. Em 1991, os coreanos chocaram o mundo ao vencerem o campeonato mundial por equipes justamente contra a China. O choque também foi provocado pela decisão das duas Coreias de competirem juntas, como um só time, algo acertado depois de meses de negociação.
Em 2018, esse arranjo voltou a acontecer, porque a Coreia do Norte e a do Sul se enfrentariam no mesmo mundial por equipes. Diante do embate que traz ranços históricos de guerras, rixas geopolíticas e memórias amargas, as delegações pediram à federação internacional para se juntarem, passando diretamente para a semifinal. Caíram para o Japão, mas a imagem dos técnicos de ambos os países celebrando pontos lado a lado segue como tentativa de convivência pacífica, numa mostra da famosa diplomacia do pingue-pongue.
A final em Paris é uma das raras chances de assistir ao vivo a mesa tenistas norte-coreanos em ação, ainda mais contra adversários de alto nível como Wang e Sun. Depois, quem sabe, só em Los Angeles-2028.
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